São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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"Boas fadas nos aproximam"

Rio, 11 de agosto de 1964
Meu caro Erico Verissimo:
Por motivo de saúde (falta de), de ausência daqui, e porque estive semanas sem vir à Academia, só hoje foi que me alegrou a surpresa de receber sua carta de 28 de junho. De verdade. Pois, veja, há também equívocos que valem a pena. Este, por exemplo, que você explica e desfaz, do "Correio da Manhã", do Mello Alvarenga, do nosso "Grande Sertão: Veredas". Sem ele, eu não teria agora o prêmio de suas linhas, tão cordiais e simpáticas. Muito, muito obrigado.
Eu não lera, aliás, a nota no jornal, nem a notinha na "Manchete". Mas, você sabe, essas coisas de imprensa, do apressado, imperfeito e efêmero, não têm nenhuma importância. Importa, e, para mim, vivamente, a limpidez de seu fraterno gesto, ao escrever-me, a alta elegância de atitude, a generosidade de sua carta. Leio-a, a fundo.
Sempre é um primeiro contato direto, que também sinceramente tenho desejado, de há muito. Houve e há boas fadas, em volta de nós, aproximando-nos. Desde as longas vezes em que o nosso querido e saudoso amigo João Neves da Fontoura comigo e afetuosamente falava de você, com viva presença –do escritor e do homem. Depois, o caríssimo Moog. E, não menos, o bom Augusto Graeff, de Carazinho, jovem confrade e colega, cheio de gaúcha alegria e seguro talento, que o tem em elevada estima e a quem quero muito bem.
Assim, com prévia lembrança e espírito de irmão, é que espero, para prazer, o dia de nosso próximo encontro, em que de viva voz conversaremos de coisas antigas e assistiremos aos nossos anjos da guarda combinarem, isto é, confirmarem o combinado. Seus belos livros sempre estiveram comigo.
Até lá, com reta e inteira admiração e aumentada simpatia e estima, o forte, muito cordial abraço do seu
Guimarães Rosa

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