São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Paz entre OLP e Israel entra no ano decisivo

DAVID COHEN
ENVIADO ESPECIAL A ISRAEL

O processo de paz árabe-israelense enfrenta em 1995 sua mais dura prova: a realidade.
A implementação da autonomia palestina nos territórios ocupados por Israel tem um prazo muito bem definido para se firmar: caso contrário, as eleições israelenses de 1996 podem mudar o cenário que propiciou o começo da solução do mais intrincado conflito do planeta e congelar o processo.
O ano passado encerrou a fase Oslo do processo de paz. A capital da Noruega foi sede primeiro do diálogo secreto entre israelenses e palestinos, em 93, e em 10 de dezembro serviu de palco para a entrega do Prêmio Nobel da Paz ao premiê israelense, Yitzhak Rabin, ao chanceler Shimon Peres e ao presidente da Autoridade Palestina, Iasser Arafat.
Agora, israelenses e palestinos têm que resolver a série de impasses e dúvidas que saem dos papéis que assinaram.
A começar pela segurança, obsessão nacional israelense. Para a opinião pública, a cessão de autonomia só é aceitável se for acompanhada por aumento de tranquilidade. Não é o que os israelenses estão sentindo.
"Todo o acordo está baseado no alívio de tensões. E isso não houve até agora, ou pelo menos o público não sente isso", diz um analista político do governo.
Segundo ele, os radicais que lutam contra o processo de paz têm chance de sucesso se conseguirem dar a impressão de que, não importa quantas concessões Israel faça, o país não estará mais seguro.
Por isso, o governo israelense titubeia no cumprimento dos itens do acordo de paz provisório.
Israel duvida cada vez mais do controle de Arafat sobre os palestinos que andam armados em Gaza e na Cisjordânia. E duvida sobretudo da determinação da Autoridade Palestina em reprimir os radicais do Hamas e da Jihad Islâmica.
Para os palestinos, a ótica é inversa. A segurança é apenas um argumento para Israel, que já teria se decidido a não respeitar integralmente o acordo de paz, segundo Ahmed Tibi, assessor especial de Arafat (veja na pág. 3).
O principal impasse é a retirada de tropas israelenses de cidades e povoados na Cisjordânia, antes das eleições para a Autoridade Palestina. As eleições deviam ter sido em julho passado.
Outra exigência palestina é a libertação de prisioneiros. Israel se recusa a libertar os envolvidos em atentados violentos.
Para complicar mais, a ajuda internacional prometida à Autoridade Palestina está emperrada por questões político-burocráticas.
Economistas palestinos calculam em US$ 11 bilhões o total necessário para dotar a faixa de Gaza de infra-estrutura adequada. Até agora, chegaram cerca de US$ 200 milhões em ajuda.
Os riscos ao processo de paz vivem de uma espécie de círculo vicioso. Enquanto a situação da região autônoma não melhora, aumenta o apoio ao radicalismo, que aumenta a ameaça à segurança dos israelenses, o que emperra avanços, o que impede que a situação melhore.
Em 94, rompeu-se o principal impasse na crise árabe-israelense, com a aceitação da fórmula de troca de territórios por paz, conforme as resoluções da ONU. A questão agora é quanta terra, quanta paz, diz Ron Nachman, deputado do Likud, maior partido de oposição.
Esta é a negociação mais complicada. Pouca gente em Israel aceita a volta às fronteiras de 1967, antes da Guerra dos Seis Dias, que deixam o país vulnerável a combater em áreas densamente povoadas em caso de guerra. Daí a demora em acertar a redistribuição de tropas israelenses na Cisjordânia.
David Mena, também deputado do Likud, diz que se seu partido vencer as eleições de 96 o processo de paz será refreado. "O que nós queremos, antes de mais nada, é congelar o processo", diz, para "ver se os palestinos são sérios".
O mesmo raciocínio vale para as negociações com a Síria, sobre a devolução do Golã, conquistado em 1967. "Não podemos ficar negociando para sempre, temos um deadline", diz Yitzhak Levanon, outro analista político israelense, referindo-se a 96, ano de campanha eleitoral.
Mas tanto Levanon como Ahmed Tibi se definem como "otimistas realistas" e acreditam no avanço do diálogo.
Como disse Shimon Peres, no discurso de aceitação do Nobel da Paz, no dia 10 de dezembro, "houve um tempo em que se guerreava por falta de escolha. Hoje, a opção da qual não se tem escolha é a paz."
"Do momento em que se começa um processo de autonomia, não se pode mais parar. Mas esse processo pode levar tanto 5 como 100 anos", diz Levanon.

O jornalista David Cohen viajou a convite do governo israelense.

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