São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Cidade da Índia tem 'chuva de televisões'

The Independent
De Londres

TIM MCGIRK

Atenção! Se você estiver em Bombaim, cuidado com os televisores que caem do céu.
Famílias protestam contra programas vulgares e enfadonhos jogando seus aparelhos pela janela, reduzindo-os a estilhaços de vidro e plástico, queimando-os ou simplesmente vendendo-os.
Dezenas, ou possivelmente centenas de aparelhos jorraram dos blocos de edifícios de Bombaim durante as últimas semanas.
A maioria dos destruidores de TVs são seguidores de um pregador muçulmano local, Maulana Abdul Rehman Korakiwala, que denuncia a telinha como uma ferramenta de satã.
Milhares de moradores dos condomínios da Comunidade Cooperativa Residencial Gulshan e da Comunidade Momin Gujarat, no opulento bairro de Versova, fecharam os olhos às insípidas novelas norte-americanas, como Dinastia, transmitidas por satélite.
Um destruidor de TVs impenitente, Abida Begun, disse ao The Pioneer: Nossas crianças estavam sendo corrompidas. Elas não estudavam. Em vez de ir às orações, elas só estavam interessadas assistir os musicais em hindi.
Destruir o televisor é uma vingança mais doce do que mudar de canal ou apenas desligá-lo. Safira Ali Mohammed, entre as primeiras rebeldes, disse ao The Pioneer:
Naquela tarde fatídica eu, meu marido e meus filhos fomos ao quarto, desligamos os fios e carregamos nosso televisor até a beira da janela.
Todos nós, juntos, o empurramos para fora. Como estávamos no terceiro andar, houve um tremendo estrondo. Muitos vizinhos correram para fora.
Ninguém fez comentários hostis. Na verdade, nós lançamos a moda de jogar os televisores e muitos outros a seguiram.
Os destruidores de televisores não são pobres ou analfabetos, presas simplórias de fanáticos religiosos, mas advogados, contadores e comerciantes de classe média que dão grande valor à educação e à união da família.
Amrita Shah, escritora especializada na mídia indiana, diz: Depois de tantos anos de televisão controlada pelo Estado, houve uma explosão de programas vindos do exterior.

Novidade
Há vários anos o público indiano só podia assistir à televisão estatal. Com poucas exceções, os programas eram apáticos, feitos mais para agradar aos burocratas do que para satisfazer o apetite dos indianos por música e fantasia.
Agora, por meio das redes de satélite e a cabo, mesmo as vilas nas alturas do Himalaia podem sintonizar sete canais.
Eles oferecem filmes de ficção científica, videoclipes de rock atrevidos e a tagarelice da apresentadora norte-americana Oprah Winfrey sobre dietas para emagrecer e incesto.
Com tantos programas bizarros e banais sendo despejados em suas salas de estar, de acordo com Shah, um recuo era inevitável.
Nem todo mundo vai destruir seu aparelho de TV, mas alguns desses programas são tão alienígenas para a cultura indiana que a classe média está reagindo com uma enorme desconfiança.
Enquanto isso, cuidado com as TVs voadoras.

Tradução de Gladys Wiezel

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