São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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Cão morto invade Bienal

Na última semana da 22ª Bienal de São Paulo, a artista "de esquerda" Ida Natalia, 24, testou sua tática de guerrilha, driblou a segurança do Ibirapuera e expôs ali, clandestinamente, sua obra alijada do "sistema". Com etiqueta igual às dos trabalhos oficiais. E perto de Leda Catunda.
Como nos 60, a "intervenção" foi fotografada para a posteridade. Há provas, portanto, de que o serviço da moça atraiu olhares de visitantes. E o de fiscais. Segundo o curador, Nelson Aguilar, houve outras "instalações" do tipo, providencialmente desmanchadas por monitores. "É como aparecer num filme em cena de multidão ou dar tchauzinho na TV", disse.
"Cem Títulos" são cópias coloridas de fotos de um cão esmagado, arrematadas com a frase "O melhor amigo do homem" (partida ao meio, como o bicho). "A intrusão denuncia esse shopping center das artes, o critério de seleção e a fetichização das obras", diz Ida Natalia.
Sobre a obra: "É um cachorro atropelado. Se o melhor amigo do homem está nessa situação, que dirá o resto?", afirma, dissecando o óbvio. E emenda: "Sou contra essa feira medieval, uma esbugalhação onde todos mostram brinquedinhos."
A guerrilheira do xerox é criação do diretor Antonio Rocco, 33, que estréia dia 13 a peça "Os Dez Mandamentos do Jogo dos Sete Erros", no teatro Crowne. Ele acha a obra de Ida de mau-gosto e idem da Bienal. Foi Rocco quem clicou o cadáver e invadiu a mostra. Ida Natália não existe, ainda bem. "Mas pode atacar de novo", ameaça.
–Heloisa Helvecia

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