São Paulo, domingo, 1 de janeiro de 1995
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O brega pós-tudo

Por Claudia Gonçalves

Com 1,90 m de altura, 37 anos e o nome artístico de "Falcão", o cearense Marcondes Falcão Maia é hoje o cantor e compositor brega mais cult do Brasil. Seu estilo debochado e escatológico agrada roqueiros e troianos. O segredo do sucesso são versões em "inglês nordestino" de pérolas do repertório nacional, como "Eu Não Sou Cachorro Não" (virou "I'm not Dog No") e "Fuscão Preto" ("Black People Car")

–Fale sobre o início da sua carreira.
–Comecei a compor em 1979. Na época, ninguém tinha coragem de cantar música brega e eu não era cantor. Eu costumo dizer que Roberto Carlos não quis gravar, Frank Sinatra também não, Julio Iglesias muito menos. Quando entrei na faculdade de arquitetura comecei a cantar para os colegas e vi que o pessoal gostava, nem que fosse por sacanagem, por esculhambação. Então, participei de um festival no Ceará com a música "Canto Bregoriano nº 2". O júri todo me deu zero, mas a platéia exigiu a minha presença na final do festival. Comecei a me apresentar em bares e na faculdade. No final de 1988, virei moda em Fortaleza. Daí para gravar o disco foi um pulo.
–Seu primeiro álbum ("Bonito, Lindo e Joiado") vendeu 50 mil cópias. Como vai indo o segundo, "Dinheiro Não é Tudo, Mas é 100%"?
–Está uma loucura. Já esgotou várias vezes. Está bem na terceira ou quarta fornada.
–Onde você aprendeu o inglês nordestino das suas músicas?
–São traduções ao pé da letra. Eu pego a versão em português e um dicionário, de preferência das Edições de Ouro. Sem merchandising, por favor! Começo a traduzir palavra por palavra até encaixar na melodia. Eu boto uma palavra, tiro outra. Ninguém vai saber mesmo. Não falo inglês e nem quero aprender para não estragar minha pronúncia. O importante é o sotaque nordestino, o cearês. É o inglês do Nordeste, como quando um nordestino fala: "Djondi tchu vai?".
–Sua primeira música em inglês nordestino foi "I'm Not Dog No" (versão de "Eu Não Sou Cachorro Não")?
–Foi. E eu comecei a fazer a versão quase sem querer. Quando ouvi essa música do Waldick Soriano, que deve existir há uns 20 anos, me deu aquele estalo de fazer em inglês. Até o nome já pintou na cabeça. Como deu certo, fiz logo a versão do "Fuscão Preto" (de Almir Rogério), a "Black People Car".
–É verdade que as fãs rasgam sua roupa?
–É. Eu tenho vários tipos de público. Tem aquele que é mais de rock, que vai ao show pela irreverência, leva tudo na brincadeira. Sabe que eu estou ali fazendo uma sátira, uma caricatura do brega. Mas tem um público mais humilde, mais povão, que leva a sério. Pensa que eu sou realmente um ídolo, um Fábio Júnior, um Maurício Mattar pós-moderno.
–Isso lá no Nordeste?
–Não. É no Brasil todo. Tem cidades onde eu não consigo sair na rua, porque é aquela confusão de autógrafo, de beijar, de agarrar. Tem lugares onde tenho que levar um estoque dobrado de cuecas, pois elas rasgam tudo.
–Você se interessa por política?
–Eu e uns amigos de Fortaleza fundamos um partido político clandestino, que é o PCB do B, Partido dos Cornos e Bregas do Brasil. Em época de eleição a gente sempre lança um candidato. No plebiscito fui candidato a rei. Também me candidatei ao governo do Ceará. Nas últimas eleições tentei a Presidência, mas não deu de novo.

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