São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Telefônica privada quer comprar Telemig

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

A única companhia telefônica privada existente no Brasil, a CTBC (Cia. de Telefones do Brasil Central) anuncia que vai disputar, "com unhas e dentes" a compra da Telemig, de Minas Gerais, quando começar o processo de privatização das telecomunicações.
O empresário Luiz Alberto Garcia, 59, presidente da CTBC e do grupo ABC Algar, do Triângulo Mineiro, calcula que o controle acionário da Telemig vale cerca de US$ 1,5 bilhão.
Ele disse que espera a quebra do monopólio das telecomunicações, que também atingirá sua empresa, para o início de 1996. Segundo Garcia, o modelo mais provável para a privatização das telecomunicações é a venda em separado das 28 subsidiárias da Telebrás.
A CTBC, de Uberlândia, é a 10ª telefônica do país (282,6 mil assinantes) e tem monopólio dos serviços em 51 cidades de Minas, 22 do norte de São Paulo, cinco de Goiás e em duas do Mato Grosso do Sul. É subsidiária do grupo ABC Algar, que teve faturamento de US$ 480 milhões e lucro de US$ 20 milhões em 94.
A seguir, os principais trechos da entrevista com o empresário:

Folha - Durante entrevista, em março passado, o sr. se mostrou orgulhoso de sua empresa ter sido a única que sobreviveu ao processo de estatização das telecomunicações. No entanto, em outubro o senhor constituiu uma holding, a Lightel, e vendeu 10% das ações para a Telebrás. Porque o sr. se associou à estatal?
Luiz Alberto Garcia - Não me associei à estatal. Criamos uma empresa de capital aberto para captar recursos. Precisamos investir para consolidar nossa posição e enfrentar a quebra do monopólio das telecomunicações. A Telebrás achou que a Lightel é um bom negócio e comprou as ações.
Folha - Não teria sido melhor buscar um sócio no exterior?
Garcia - O dinheiro da Telebrás é tão bom quanto o estrangeiro. Dinheiro não tem cor.
Folha - O senhor acha que o governo vai privatizar as estatais ou apenas abrir o mercado para que haja concorrência entre empresas privadas e a Telebrás?
Garcia - Tenho a impressão de que até o final de 95 tudo continuará como está. Acho que as mudanças começarão em 96, com a quebra do monopólio na telefonia celular. Estamos preparando nossa empresa para um cenário de privatização total do setor.
Folha - O que sua empresa vai fazer para enfrentar a chegada de concorrentes?
Garcia - Vamos investir US$ 42 milhões para ampliar o número de telefones celulares de 11,8 mil para 57 mil este ano; instalar mais 18 mil telefones comuns e ampliar a transmissão de dados. A estratégia é ocupar o maior espaço possível enquanto somos os únicos no mercado.
Folha - Quanto o senhor acha que vale o controle acionário do sistema Telebrás?
Garcia - Isso vai depender da gana com que o mundo vai ver a privatização no Brasil e da flexibilização das tarifas. Os investidores internacionais se desiludiram com o Leste Europeu e olham o Brasil com muito interesse.
Folha - Que empresas virão para o Brasil?
Garcia – Acho que a AT&T, dos EUA, virá para massacrar. É o maior fantasma que temos pela frente. A Alcatel francesa, a Telefônica da Espanha e as "baby bells" (companhias telefônicas americanas) também virão tentar comprar parte do sistema Telebrás.
Folha - O senhor vai se associar a grupos estrangeiros para participar da privatização?
Garcia – Dificilmente teremos condição de comprar sozinhos as ações da Telemig, mas não abrimos mão do controle acionário. Queremos sócios que não estejam interessados no controle acionário.

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