São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Cavallo já prepara novo pacote fiscal na Argentina

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

O ministro da Economia da Argentina, Domingo Cavallo, anunciará nos próximos dias um novo pacote fiscal. O objetivo é reconquistar a confiança do mercado financeiro, sobretudo a cinco meses das eleições presidenciais.
Fechamento de órgãos públicos, regras mais rígidas para administração dos bancos provinciais, cortes em programas do governo, privatização de estatais e implantação de programa de aposentadoria voluntário de funcionários públicos estão entre as principais medidas de Cavallo.
Além de medidas para equilibrar as contas públicas em 95, poderá ocorrer alterações nas regras para o sistema financeiro.
O Banco Central estuda aumentar o valor do depósito compulsório em dólar por cada instituição financeira, hoje limitado a cerca de 30% sobre os recursos globais.
Isso daria mais tranquilidade aos bancos, que ainda temem uma desvalorização do peso argentino. Na prática, a equipe do ministro da Economia esforça-se para resgatar a credibilidade do Plano Cavallo junto à comunidade financeira internacional depois da crise mexicana.
Segundo a Folha apurou, Cavallo decidirá hoje se divulgará as medidas gradualmente, ao longo do mês de janeiro, ou fará o anúncio de uma só vez.
A maior preocupação da equipe econômica é evitar que as eleições presidenciais de 14 de maio, nas quais o presidente Carlos Menem disputará um novo mandato, aumentem as incertezas do mercado quanto ao programa de estabilização.
Cavallo e o presidente do Banco Central, Roque Fernandéz, já sinalizaram para o mercado que o governo está disposto até mesmo a dolarizar integralmente a economia argentina.
Atualmente, o peso e o dólar circulam rotineiramente. Existem depósitos bancários nas duas moedas. A dívida pública também se divide entre o peso e o dólar.
A desvalorização do peso frente ao dólar é negada tanto por Cavallo quanto por Menem. Às vésperas das eleições, uma desvalorização geraria mais inflação e implicaria no aumento da dívida pública argentina.
Por isso mesmo, o Ministério da Economia os efeitos de uma dolarização integral da economia argentina. Isso significaria uma situação semelhante a do Panamá.
Mais do que nunca, o governo Menem precisa aumentar o superávit comercial argentino. O próprio Cavallo disse à Folha que conta com o aumento das exportações para o Brasil como resultado do aumento do consumo.
Ele conferiu de perto os resultados do Plano Real. Ele e a mulher Sônia estiveram incógnitos no Brasil na semana seguinte ao lançamento do programa, em julho.
Cavallo hospedou-se no Hotel Intercontinental, no Rio de Janeiro, durante um final de semana. Conversou com motoristas de táxi, balconistas de lojas e pessoas na praia. Diz que saiu convencido de que o plano daria certo.
As medidas que Cavallo prepara são amargas para um ano eleitoral. Apesar disso, ele tem tido até agora o apoio integral de Menem.
O presidente sabe que a permanência do ministro no cargo é indicação para o mercado de que não haveria mudanças significativas no programa econômico.
Menem apóia Cavallo apesar disso implicar atritos com integrantes da cúpula do Partido Justicialista, como o irmão, senador Eduardo Menem, presidente do Senado Federal.

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