São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Brasil quebra hegemonia africana

EDGARD ALVES

Ronaldo da Costa supera favoritismo estrangeiro e vence a 70ª São Silvestre em São Paulo

O mineiro Ronaldo da Costa, 24, superou o favoritismo africano e mexicano e venceu no sábado a 70ª São Silvestre, disputada nas ruas centrais de São Paulo.
Muita concentração na hora da prova, força, coragem e raça. Esses foram os atributos que levaram Ronaldo, segundo ele próprio explicou, à vitória.
Ronaldo disse à Folha ter "caído na real" somente ontem. "Como sempre, acordei cedo, às 5h30. Aí é que fiquei arrepiado, me dei conta da vitória", afirmou.
Na sexta, mostrando otimismo, o novo campeão disse: "Ficamos 24 anos sem a Copa do Mundo e estamos há 9 anos sem o título da São Silvestre. Acho que chegou a nossa hora".
O último título brasileiro tinha sido ganho em 85 por José João da Silva. Nos últimos dois anos a vitória tinha sido africana, com o queniano Simon Chemwoyo.
Momentos depois da corrida, eufórico, respondendo às perguntas como se estivesse em um palanque em campanha política –chegou até a ficar em pé sobre a cadeira na entrevista coletiva, com o microfone na mão– ele reivindicou mais atenção do governo e patrocinadores para o atletismo.
"Falta patrocínio para o atletismo ser campeão. Sou de família pobre, mas cheguei lá", gritou.
Ronaldo dedicou a vitória a sua mãe, dona Efigênia, que acompanhou a prova pela TV em Descoberto, cidade a 70 km de Juiz de Fora, em Minas Gerais. "Ronaldo da Costa é campeão. Descoberto vai parar um mês", berrou.
Embora diga que não é supersticioso, Ronaldo havia pedido a sua mãe que colocasse a TV no seu quarto e assistisse a corrida lá. "Pedi também que ela rezasse para mim e acendesse velas pretas e brancas, que daria certo."
Além do título, o campeão tem outra novidade para mostrar aos amigos de Descoberto. Um pequeno brinco de prata, que passou a usar na orelha esquerda há umas três semanas. Ronaldo é solteiro e diz ser cedo ainda para casar.
Fez questão de outra homenagem: "Dedico esta vitória ao Ayrton Senna e a toda a família dele. Quando aconteceu o acidente com ele, eu estava no Rio e ganhei uma prova". Coincidentemente, próximo à linha de chegada em frente ao prédio da Fundação Cásper Líbero, na avenida Paulista, torcedores portavam nove faixas lembrando Senna. A conquista da Copa do Mundo parecia apagada da memória no sábado chuvoso.
Ronaldo disse que o tempo úmido favoreceu seu desempenho, mas que a prova foi difícil. "Eu estava bem preparado" .

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