São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995
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Ver para crer

Marcada tanto pelo impeachment quanto pelo fiasco da revisão constitucional e pela meia-pizza da CPI do Orçamento, esta legislatura vai-se encerrar sem dar à sociedade motivos para que modificasse a impressão ruim que tem dos seus representantes. Segundo pesquisa do Datafolha divulgada sábado, só 16% da população avalia o desempenho dos atuais congressistas como ótimo ou bom; 38% o considera regular e 37%, ruim ou péssimo.
O resultado, é claro, não surpreende. A gazeta institucionalizada (que criou a acintosa semana de três dias úteis), a lentidão, o corporativismo escancarado, o fisiologismo; todas essas características seguem lamentavelmente adequadas para descrever a imagem do Parlamento junto à opinião pública.
Mesmo no quesito irregularidades, quem esperava, após o afastamento de Collor e do início da CPI do Orçamento, um avanço moralizador no Congresso acabou decepcionado. A melancólica nota final desta legislatura fica exatamente com a tentativa indecente de anistiar congressistas que usaram a gráfica do Senado com fins eleitorais.
O mais curioso na pesquisa, porém, é a expectativa quanto aos congressistas que assumem este ano: 42% dos brasileiros esperam um desempenho ótimo ou bom e apenas 12%, ruim ou péssimo.
Uma análise fria da nova composição do Congresso não parece autorizar tamanho otimismo. Não há, de fato, uma mudança qualitativa que prometa um desempenho melhor nos próximos anos. E isso, infelizmente, tratando-se de uma legislatura que terá pela frente tarefas gigantescas, essenciais para o projeto de superar a instabilidade crônica e começar a avançar rumo a um desenvolvimento sustentado.
As expectativas otimistas podem de todo modo ter um efeito positivo se forem acompanhadas de uma vigilância atenta e de uma cobrança ativa da população sobre seus representantes. Mesmo assim, com relação ao Congresso brasileiro, ceticismo quase nunca é demais.

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