São Paulo, segunda-feira, 2 de janeiro de 1995 |
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Correio sentimental O governo reduziu várias facilidades recentemente instituídas para importar pelo correio. Baixou os limites de valor permitidos e aumentou a tributação. A experiência parece ter sido aprovada pelo governo só como farra natalina. Termina com os festejos de fim de ano. Parece evidente que as autoridades mostraram-se sensíveis a reclamos de setores produtivos nacionais. Houve uma grita justificada contra benefícios a produtos externos poupados da carga tributária que incide sobre os nacionais. Isso é justificável, mas por si só não torna o passo atrás menos discutível. De fato, é preciso assegurar alguma equidade no tratamento fiscal dispensado ao produtor nacional e ao estrangeiro. Entretanto, é enganoso imaginar que essa equidade possa ser um critério absoluto. A importação pelo correio pode ter ajudado a equilibrar em alguma medida o crescimento do consumo. A economia continua aquecida e os planos do presidente eleito são de consolidar a estabilização e ao mesmo tempo sancionar o crescimento, modelo no qual a continuidade da abertura pode desempenhar um papel importante. O problema é confundir a definição de regras estruturais, ou seja, de longo prazo, com o dia-a-dia da economia. Ao facilitar as compras pelo correio, o governo sinaliza a vários setores empresariais um novo nicho de serviços. As importações pelo correio não precisam estar totalmente isentas de controles, mas manipular esses controles a cada conjuntura é um erro. Há atualmente uma emoção forte no ar, devida às dificuldades do México e Argentina, onde houve liberalização comercial. Mas essa também é a hora para distinguir entre a liberalização, processo estrutural, e a supervalorização cambial, que se prolongada pode levar a catástrofes como a mexicana. Fazer bem a distinção entre o que é pertinente para a estrutura e para a conjuntura é condição "sine qua non" para o êxito de uma política econômica. Caso contrário, serão sentimentais as decisões sobre temas que exigem mais da razão. Texto Anterior: Ver para crer Próximo Texto: Com os pés no chão Índice |
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