São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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FHC quer fim de divergências públicas

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), 63, encerrou os dois dias da primeira reunião do Conselho de Governo pedindo aos ministros que não tornem públicas as suas divergências e evitem confrontos com o Congresso.
Chegou mesmo a recomendar que seus assessores não usem a mídia para "fazer fofoca".
Na semana passada, a primeira do governo FHC, vários ministros divergiram publicamente entre si.
Adib Jatene (Saúde), 65, criticou o fim da estabilidade dos servidores públicos, proposta defendida pelo ministro Luiz Carlos Bresser Pereira (Administração e Reforma do Estado), 60.
Ambos falaram com base em suas experiências administrativas. Jatene chefiou a Saúde durante o governo Fernando Collor (1990- 1992) e Bresser Pereira foi ministro da Fazenda de José Sarney (1985-1990).
Um dia depois, Dorothéa Werneck (Indústria e Comércio), 46, se desentendeu com o ministro do Planejamento, José Serra, 52, que tentou interferir na escolha do coordenador do Conselho de Comércio Exterior.
Dorothéa e Serra são colegas de PSDB. A ministra, que chefiou a pasta do Trabalho na época de Sarney, chegou agora ao governo na cota dos tucanos mineiros.
Serra é senador eleito por São Paulo e sua indicação para o ministério contou com forte lobby do empresariado paulista.
Tempo para reformas
FHC também solicitou à sua equipe que não se preocupe com o tempo que pode levar para implantar as reformas do Estado.
Disse aos 35 membros do primeiro escalão, reunidos sexta-feira e sábado na Granja do Torto, que poderão contar com ele para enfrentar as prováveis resistências corporativistas às mudanças.
No primeiro encontro do Conselho de Governo nada foi discutido em profundidade. Segundo a Folha apurou, além dos recados, o presidente aproveitou as 16 horas da reunião com características de "dinâmica de grupo" para os ministros "internalizarem" as diretrizes de sua administração.
FHC ressaltou que o governo dura quatro anos e que o ritmo depende da viabilidade política. Enfatizou que fará um governo de "explicação" e a "persuasão".
A procura pela viabilidade política foi entendida como um recado para que ninguém afronte o Congresso e coloque em risco a base de apoio governista na Casa.
Orçamento real
FHC pediu que os ministérios trabalhem com um Orçamento real para que o governo abandone gradativamente a política de controle da inflação através dos juros altos, crédito restrito e depósitos compulsórios –esta política não gera investimentos.
O Banco Central tem pelo menos R$ 50 bilhões recolhidos de depósitos compulsórios.
A política de controle monetária deverá ser trocada pela reforma fiscal que dará ao governo uma garantia de quanto arrecada, como arrecada e como o dinheiroserá distribuído.
Segundo o porta-voz, o embaixador Sérgio Amaral, 49, "mesmo os ministros gastadores", como definiu os ministérios da área social, concordaram que é necessário haver previsão de fluxo de caixa para investir.
A equipe toda foi orientada a concluir as obras em andamento em seus ministérios antes de iniciar novas.
O triunvirato dos ministros Serra, Pedro Malan (Fazenda), 51, e Clóvis Carvalho (Casa Civil), 56, pareceu incomodar pouco os demais membros do governo. FHC responsabilizou-os pela coordenação das ações do governo.
Os três foram classificados po seus colegas como ministros de "poder natural", até pela proximidade com FHC.

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