São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995 |
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'Caçador de emoção' escala viadutos em SP
DANIELA FALCÃO
Apesar disso, gastam quase todo o tempo livre que têm se arriscando em aventuras suicidas. São os "caçadores de emoções" brasileiros que, a exemplo do personagem de Patrick Swayze no filme de mesmo nome, fazem qualquer coisa por uma aventura. "Menos assaltar banco", pondera Roberto Fitckel, 40, o veterano da turma. Eles pulam de pára-quedas em cima de pranchas de surfe, mergulham de penhascos de até 25 metros de altura e desafiam a força das águas escalando cachoeiras. Em São Paulo, a mais nova mania dos esportistas radicais é o "rapel" (escalada em vão livre). Na falta de paredes rochosas, os paulistanos estão usando pontes e viadutos para praticar alpinismo. Pode parecer loucura, mas para uma dezenas de aficionados por esportes radicais essas atividades são a melhor maneira de relaxar. "Para mim, é uma terapia. Passo toda a semana de gravata, superestressado, mas quando desço uma cachoeira me sinto revigorado", diz o advogado Roberto Baptista Dias da Silva, 25. "Mas bom mesmo é sentir a adrenalina. Cada vez que vou descer uma cachoeira sinto vontade de desistir e, nos primeiros minutos, torço para acabar logo. Mas depois relaxo e fico curtindo o visual". A designer Edla Panigel, 23, era louca por esportes desde menina. "Meu pai e meus irmãos faziam motociclismo e mergulho. Eu acompanhava quando podia, mas meu sonho era virar alpinista". Depois de algumas tentativas frustradas de aprender a escalar rochas, Edla resolveu tentar o "canyoning" (descida de cachoeiras com auxílio de cordas). "Comecei em novembro passado", diz. Hoje, além de "canyoning" e "rapel", Edla faz "free climbing" (alpinismo em paredes). Junto com outros oito esportistas, a designer passa duas horas por noite na praça do Pôr-do-sol, (Alto de Pinheiros, zona oeste), treinando em um muro montado para os alpinistas urbanos. O empresário Camile Kachami, 30 –único brasileiro a ultrapassar o paralelo 80º, no Pólo Norte– só aprendeu a nadar aos 21 anos. Ele diz que o que mais o atrai nos esportes radicais é a sensação de estar se arriscando. "Gosto do risco. Sem risco não tem adrenalina". O instrutor de pára-quedismo José Ricardo Carnaúba, 32, também acha que o risco é o maior atrativo dos esportes radicais. "Pulo desde 1986 e sempre acho que o pára-quedas não vai abrir. Mas nos meus quase 450 saltos nunca precisei acionar o equipamento de reserva". Formado em computação, Carnaúba trabalha no Centro de Pesquisa da Telebrás, em Campinas. Nos fins-de-semana, vira instrutor de pára-quedismo e cameraman. Antes de virar pára-quedista, Carnaúba fazia vôo livre, surfava e esquiava. "Continuo me emocionando quando pulo, mas o misto de tensão e euforia do primeiro salto a gente nunca esquece". Segundo Carnaúba, alguns alunos ficam tão emocionados com o primeiro salto de pára-quedas que entram em choque e esquecem de tudo quando chegam no chão. Bicicleta Na falta de montanhas e obstáculos naturais para andar de bicicleta, os radicais urbanos também deram um jeito de praticar mountain bike na cidade. Todos os fins-de-semana, turmas de bikers lotam o lago do viveiro Manequinho Lopes, no parque Ibirapuera (zona sul), para apostar corrida e ver quem demora mais tempo para cair na água. Outra modalidade que vem ganhando cada vez mais adeptos é o "trialsin", onde os ciclistas têm que vencer obstáculos artificiais (como carros, muros e bancos). Texto Anterior: Tragédia e absolvição Próximo Texto: Janeiro chuvoso aumenta risco de guiar Índice |
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