São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Histórias do carro japonês (2)

HELCIO EMERICH

Embora já produzisse veículos (ainda em escala artesanal) desde 1907 –como relatamos aqui anteriormente– a indústria automobilística do Japão ganhou seu primeiro grande estímulo por volta de 1920, quando o governo japonês começou a subsidiar algumas montadoras. Por trás desse interesse oficial revelava-se claramente o projeto expansionista do império nipônico (que mais tarde resultaria na invasão das províncias do norte da China), bastando lembrar que os financiamentos privilegiavam a produção de veículos militares e industriais. Fábricas como a Kwaisinsha, Tokyo Gas Denki e Ishikawajima se engajaram ativamente na produção de caminhões e outros veículos para utilização bélica.
Terminada a Segunda Guerra Mundial, com a indústria (e a frota) japonesa arrasada, o país viveu a fase de desmilitarização e reconstrução sob o comando do general americano Douglas McArthur, o herói das batalhas do Pacífico. A produção de automóveis recomeçou ainda com prioridade para a montagem de caminhões e utilitários, agora para uso civil. Mas foi mais uma vez a interferência do Estado, através de uma estratégia ao mesmo tempo pragmática e inovadora de negociar com o Ocidente a aquisição de tecnologia e estilo, somada ao desenvolvimento de uma feroz capacidade de competir em termos de produtividade e custos (favorecidos pela disponibilidade de mão-de-obra do pós-guerra), que levou o Japão à avassaladora escalada sobre o mercado automobilístico mundial.
A intervenção do Estado mostrou-se dura também com a concorrência estrangeira, inicialmente para reverter um quadro desfavorável às marcas japonesas no mercado doméstico. Antes da guerra, a GM e a Ford, entre outras multinacionais, haviam desembarcado no Japão. Em 1929, dos 35 mil veículos absorvidos pelo mercado japonês quase 30 mil haviam sido montados no país, mas só 437 unidades foram fabricadas por empresas nipônicas. Veio então a Motorcar Manufacturing Enterprise Law, código tão rígido de restrições à produção de veículos estrangeiros que, pouco tempo depois, a GM e a Ford abandonavam o Japão.
Restaram, na época, empresas como a Toyota, Nissan, Mitsubishi e Isuzu. Algumas, curiosamente, não nasceram voltadas para a produção de automóveis (a Toyota cresceu no negócio dos têxteis e a Mitsubishi como poderosa holding atuando em vários setores). Ambas não hesitaram também em se valer do recurso do "take over" para se fortalecer no mercado de automóveis: a Toyota, por exemplo, incorporou a Hino e a Mitsubishi assumiu o controle da Prince. De qualquer forma (mais precisamente a partir dos anos 60) o mundo assistia com espanto ao fenômeno industrial e de marketing conhecido como o "milagre japonês" e que, tendo o automóvel como aríete, transformou o Japão na nação mais rica do planeta.

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