São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995 |
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Bryan Ferry volta com "Mamouna"
MARTA NIETO
Este dândi do pop chegou tarde ao mundo da música. Antes, se dedicava à pintura –foi aluno do artista plástico pop Richard Hamilton. Na entrevista a seguir, ele fala sobre o novo trabalho e sobre o Roxy Music. Pergunta - "Mamouna" é um nome marroquino. O que o disco tem de árabe? Resposta - Apesar de a música árabe me atrair muito, não acho que haja alguma influência. Talvez tenha em comum estar impregnado de um fluido livre, como o ar do deserto do Saara. Escolhi "Mamouna" porque é um nome de mulher evocativo, que eu gosto muito. E quer dizer "boa sorte", o que vem em boa hora para mim. Pergunta - O disco lembra o Roxy Music. Bryan Ferry e Roxy Music são uma coisa só? Resposta - Gosto que seja assim. Em outros discos eu não parecia suficientemente comigo mesmo. O Roxy Music era muito mais meu reflexo que meus discos solo. Quando você tem um grupo, é levado mais adiante. Em meus discos solo, toquei com os melhores músicos do mundo. Você se sente sufocado por eles. Isso acontece especialmente quando você é também produtor e fica mais atrás da mesa que interpretando. Em "Mamouna", conto com um excelente produtor, Robin Trower, que foi guitarrista do Procol Harum e é muito experiente. Me coloquei inteiramente em suas mãos. Pergunta - Colaboram também o guitarrista Phil Manzanera e o saxofonista Andy McKay, seus companheiros de Roxy. Resposta - Sim, trabalhei com eles nesse disco, mas é uma colaboração pequena. Quem participou do disco inteiro foi Brian Eno, com quem voltei a me encontrar há algum tempo e recuperamos a relação que havíamos perdido. Pergunta - Você não pensa em retomar o grupo? Resposta - Reunirmo-nos? Como os Eagles? Não acho que seja possível. Claro que já me passou pela cabeça, mas não será possível. Tenho coisas a fazer, estou muito ocupado com "Mamouna". Pergunta - Entre o disco "Bête Noire" e este se passaram sete anos, e você lançou apenas um disco de versões, "Taxi". Compor demora tanto assim? Resposta - Levava muito tempo trabalhando com canções que nunca ficavam prontas. Por isso parei e fiz "Taxi". Foi refrescante cantar temas de outros, um respiro. Depois, voltei a "Mamouna" sabendo exatamente o que queria. Pergunta - A maioria das músicas fala de amor. Resposta - Faço canções de amor. Sou um romântico. Incurável. Pergunta - Você afirmou que a década 82-92 foi muito negativa para você. Isso foi superado? Resposta - A causa principal foi um terrível divórcio profissional. Fiquei sem empresário, sem produtor... Me senti perdido. Agora, volto a me encontrar. Me sinto mais feliz com este disco que com os anteriores. Pergunta - Você acha que encontra eco nas novas gerações? Resposta - Espero que minha música chegue aos adolescentes de agora. Quando eu era garoto, gostava de blues, soul, jazz, coisas de músicos mais velhos. A música dos negros sempre me fascinou, a ponto de meu filho se chamar Otis, em homenagem a Otis Redding. Tradução de Pedro Alexandre Sanches Texto Anterior: Piadas amarelas dominam a tela Próximo Texto: Novo CD expõe contradições Índice |
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