São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Capital da Tchetchênia lembra Sarajevo

KURT SCHORK
DA REUTER, EM GROZNI

Gritos de "Allahu Akhbar" (Deus é o maior) e disparos tonitruantes de artilharia ecoam pela capital, enquanto combatentes muçulmanos com rifles Kalashnikov se lançam contra tanques conduzidos por cristãos ortodoxos.
Mulheres e crianças se escondem em abrigos antibombas, enquanto quarteirões ardem durante toda a noite.
Imagens televisivas da carnificina granjeiam a simpatia do mundo para a determinação dos muçulmanos; mas o público permanece, em geral, pouco interessado por estes séculos de história que subitamente eclodem na forma de guerra.
Esta é Grozni e não Sarajevo, na Bósnia –mas suas semelhanças são lúgubres. As duas cidades se transformaram em campo de batalha onde maiorias muçulmanas sofrem o ataque de inimigos cristãos ortodoxos.
Os Bálcãs ficam em uma das maiores falhas geopolíticas do mundo, sobre a qual Roma e Constantinopla dividiram o mundo cristão em Ocidente e Oriente.
O Cáucaso, uma miscelânea de grupos étnicos, foi ocupado pelo Império Russo no último século. Apesar da declaração de independência da Tchetchênia, em 1991, a Rússia insiste que a região é parte integrante da Federação Russa. Nenhum país reconhece a região como um Estado independente.
Sarajevo, uma cidade predominantemente muçulmana, esteve sitiada pelos bósnios sérvios por mais de 1.000 dias.
As tropas russas estão combatendo em Grozni há apenas um mês, mas seus ataque causaram danos irreparáveis.
Proibidos por considerações políticas de bombardear com aviões a capital, os russos adotaram a tática sérvia de cercar e pulverizar Grozni com tanques e artilharia.
Mas a resistência dos guerrilheiros, tanto em Grozni quanto em Sarajevo, fez com que os tanques e a infantaria se envolvessem em sangrentas batalhas de rua.
A mais importante diferença entre Sarajevo e Grozni é que o mundo sempre viu a guerra da Bósnia como um conflito sem significações geopolíticas amplas.
Em contrapartida, os tchetchenos provocaram uma antiga superpotência em plena crise de identidade.

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