São Paulo, segunda-feira, 9 de janeiro de 1995
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Muito além do câmbio

Apesar das novas medidas de austeridade e da viagem do ministro das Finanças aos EUA para tranquilizar os investidores, a crise cambial do México e a instabilidade a que ela deu início agravaram-se na semana passada. As perdas somam dezenas de bilhões de dólares. Desaceleração econômica e inflação parecem inevitáveis.
O fracasso da estabilização baseada na valorização do câmbio torna necessário um novo ajuste que vai muito além do câmbio. Trata-se de equacionar um déficit externo de 9% do PIB. É cavalar.
Após anos de restrições às importações e estímulos às exportações, o Brasil obteve superávits comerciais de pouco mais de US$ 10 bilhões por ano (2% do PIB). Com um produto muito menor, o México enfrenta um déficit em conta corrente de US$ 28 bilhões anuais.
Será inevitável um desaquecimento que ajude a reduzir importações e liberar mais excedentes exportáveis. Para reestabilizar os preços, novos e vultosos cortes orçamentários serão necessários.
Os problemas imediatos não são menores. Com a perda de credibilidade, tanto o Tesouro como o setor privado mexicano têm imensa dificuldade de renovar os empréstimos tomados no exterior. E o país não dispõe de divisas se tiver de pagar essas dívidas. Os prejuízos dos que devem em dólares e faturam em pesos –que agora valem 60% menos do que há duas semanas– colocaram empresas e bancos em situação extremamente delicada.
Com o fundo de ajuda internacional de US$ 18 bilhões pode-se contornar o sufoco mais imediato. Mas por maior que seja a solidariedade econômica dos EUA, do FMI e da OCDE, está claro que o reequilíbrio da economia mexicana não será tarefa fácil nem rápida.
No Brasil, as marolas dessa crise causam alguma turbulência, mas as contas externas são mais saudáveis. A valorização cambial não foi tão profunda e pode não ser agravada. É na Argentina que o maremoto pode fazer maiores danos. Lá, a valorização cambial é bem maior e nela se ancorou a estabilização.
Apesar de todos os estímulos dados às exportações, o déficit comercial argentino cresce ano após ano. Como o México, o país tem dificuldade em rolar os empréstimos no exterior. Mais uma vez, o estrangulamento externo constrange toda a economia.

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