São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Mudança indica desarticulação política

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR-EXECUTIVO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O cancelamento da reunião dos dias 26 e 27 expõe um dos principais problemas do governo: a ausência de articulação política do Planalto. FHC condiciona o sucesso da primeira fase de sua administração à reforma da Constituição. Precisa, portanto, do Congresso. Mas não sabe como se relacionar com os parlamentares.
O presidente disse a auxiliares, antes de tomar posse, que exerceria ele próprio a coordenação política do governo. Despreocupado, nomeou Clóvis Carvalho, um técnico, para o Gabinete Civil. E fez de Nelson Jobim, constitucionalista de cintura dura, seu ministro da Justiça. Agora, ressente-se da ausência de um negociador político.
FHC gostaria de manter distância de deputados e senadores. Graças a um comentário seu, feito na intimidade, espalhou-se no Congresso, semana passada, que não receberia parlamentares.
Assustado, um deputado interpelou Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA). "Mas como não vai receber?", iniciou o deputado. "O Médici tinha o AI 5 e recebia".
FHC abandonou a idéia de transformar o Conselho Político, ao qual só têm acesso os presidentes de partido, em ponte exclusiva de ligação com o Congresso. Prepara-se para manter contatos pessoais com deputados e senadores.
A inoperância política do governo não é, porém, a única causa dos desencontros entre Legislativo e Executivo. Diz-se que a atmosfera de crise decorre também da convivência forçada de um governo novo com um Congresso velho.
Uma parte do atual Congresso sabe-se morta pelos próximos quatro anos. Por isso, tenta arrancar do novo governo os últimos favores. "Isso está uma bandalheira", nota José Genoino (PT-SP).
José Sarney (PMDB-AP) defende a mudança da data da posse do presidente. Acha que o sucessor de FHC deve começar a trabalhar em fevereiro, junto com o Congresso. Não há entre os aliados de FHC quem discorde de Sarney. Apóia-se, assim, a decisão de FHC de só abrir negociações com os parlamentares em fevereiro.
A parte mais delicada será o preenchimento de cargos públicos. No Brasil dos últimos anos, o rateio de postos entre os partidos tornou-se fonte de desgaste presidencial. "Àté aqui, a gritaria da base governista se deve mais às virtudes do que aos defeitos do governo", diz o petista Genoino. "Se o Fernando Henrique não ceder aos apelos do clientelismo, temos a obrigação de partir para uma oposição mais construtiva".

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