São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995 |
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Uma ótima chance
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA – O presidente Fernando Henrique Cardoso tem, agora, uma extraordinária chance de colocar logo em prática compromisso de seu discurso de posse: enfrentar mamatas dos privilegiados.Basta dar uma olhada na lista preparada por seu ministro da Fazenda, Pedro Malan –uma lista que mostra dinheiro do contribuinte saindo pelo ralo. E muito dinheiro. Divulgado pela Folha, o documento revela como empresas gigantescas, utilizando engenhosos artifícios, enviam dinheiro irregularmente ao exterior e, ao mesmo tempo, driblam o fisco. O texto é assinado por Pedro Malan, então presidente do Banco Central. Transformado em ministro da Fazenda, ele está em posição avantajada para aprofundar as investigações e tomar providências. Não é fácil, claro. Mas é por aí que vamos medir a disposição do novo governo em dar o exemplo de seriedade –e não pelo palavrório que só encanta a desinformados ou interesseiros bajuladores, espécimes comuns na órbita do poder. Não é fácil porque são empresas poderosas. Muitas financiaram candidaturas bem-sucedidas; têm esquemas de comunicação e de consultoria capazes de formar opinião; ótimos advogados. Há na sociedade brasileira, com reflexos em determinados setores da imprensa, uma tendência a se enxergar a delinquência essencialmente no setor público. Critica-se (e com razão) a manipulação eleitoral da Gráfica do Senado por parlamentares, por exemplo. Mas não se mostra a mesma indignação quando empresários, usando sofisticados truques, provocam danos várias vezes mais caros à nação. Com esse documento, Pedro Malan ficou na seguinte situação: leva às últimas consequências o que ele próprio denunciou em documento ou curva-se aos interesses do baronato, pisoteando o discurso de Fernando Henrique. PS – Para aumentar a indignação do caro leitor: o novo chefe da Receita Federal, Everardo Maciel, calcula que um trabalhador de classe média trabalha quatro meses por ano só para o governo. É o que ele deixa em impostos diretos e indiretos. Texto Anterior: As reformas na Previdência Próximo Texto: Droga e álcool Índice |
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