São Paulo, terça-feira, 10 de janeiro de 1995
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Droga e álcool

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Tão antiga quanto a própria humanidade, a utilização de subterfúgios químicos para alterar a percepção da realidade –pretensamente tornando-a menos massacrante– vira e mexe volta ao centro das atenções.
Proibir ou liberar? Amenizar ou recrudescer a punição aos usuários? Desajuste social ou doença?
Estas são as questões mais recorrentes quando se debatem as propostas de liberalização ou descriminação das chamadas drogas leves, como a maconha.
Para enriquecer a polêmica que ressurge mais uma vez a Folha trouxe na sua edição de ontem entrevista com a ministra da Saúde da França, na qual ela apresenta novos argumentos em favor da retirada da imputação de crime ao consumidor de maconha.
Disse mais, porém, referindo-se superficialmente ao álcool, acrescentando, do meu ponto de vista, motivos para permitir a seguinte afirmativa: está-se deixando de discutir, com a devida profundidade, o consumo do álcool e os seus efeitos.
A mais letal das "drogas legais" é praticamente assunto tabu na sociedade de consumo: evita-se discutir ou tomar conhecimento de seus malefícios crescentes, concretos e renováveis.
Mais ainda omitem-se as maneiras de se enfrentar o hábito quando este se torna pernicioso ou de combater o vício.
Portanto, é sempre difícil obter dados objetivos sobre o número de mortes causadas diretamente pela ingestão de álcool, quais e quantos são os malefícios a que são submetidos bebês de mães alcoólatras, quais são as perdas no mercado de trabalho ou como as famílias enfrentam o drama. As informações são escassas, estão escamoteadas.
Bebe-se muito no Brasil, e certamente se vai continuar bebendo, pois há quase que uma "proteção social" a este "componente da vida moderna".
E é por isso mesmo que não se deve discutir a descriminação da maconha sem responsabilizar a sociedade pela sua relação hipócrita com o álcool.
O homem tem o direito de dispor de sua vida, mas pelo menos que se alertem os incautos.

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