São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
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Palavras, palavras

Como se sabe, o programa de privatização andou muito mais lentamente no ano passado do que seria desejável. Sem maior empenho do governo, sucessivos leilões foram adiados e um processo crucial para a reestruturção do Estado brasileiro acabou sendo prejudicado. É o caso agora de cobrar do novo governo que acelere o movimento de desestatização.
Retoricamente, o presidente Fernando Henrique Cardoso tem manifestado reiteradas vezes o caráter prioritário que pretende dar à privatização, inclusive na reunião ministerial do último final de semana. Por menos tempo que a atual gestão tenha tido até agora, porém, é de se notar a ausência de sinais mais determinados de que essa suposta prioridade se traduzirá em medidas concretas.
Por enquanto, o que se tem é que a intenção do governo de venda de empresas do setor elétrico já no primeiro semestre deste ano encontra obstáculos e que a expectativa agora, segundo a diretora de Privatização e Infra-estrutura do BNDES, Elena Landau, é que apenas uma empresa nessa área –a Escelsa, do Espírito Santo– seja leiloada antes do meio do ano.
Já no setor petroquímico, as empresas estatais restantes seriam vendidas ainda neste semestre. Tudo isso, desde que seja revogada a suspensão do processo de privatização que lamentavelmente havia sido determinada pelo ex-presidente Itamar Franco.
Há, evidentemente, diversas preocupações inafastáveis que têm de ser levadas em conta na desestatização, e que não podem de forma alguma ser comprometidas por decisões precipitadas, como a absoluta transparência das operações e a correta avaliação do patrimônio público. A obediência a esses quesitos obrigatórios não pode contudo servir como justificativa para hesitação ou delongas. É hora de o governo Fernando Henrique Cardoso começar a mostrar se o seu discurso pró-privatização e profundo reequacionamento do Estado vai mesmo sair do papel.

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