São Paulo, sábado, 14 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Duro de engolir

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Mais um motivo de cautela (melhor diria, pânico) para quem compra remédios, ou seja, todos nós. A Folha revela hoje que das 15 mil farmácias de São Paulo, cerca de 70% (isso mesmo, 70%) não têm um farmacêutico responsável.
Há 1.500 estabelecimentos clandestinos, muitos deles trabalhando com produtos químicos ou remédios surrupiados. Se é assim no Estado mais rico do Brasil, imagine-se então nas regiões pobres.
Daí se mede com precisão como ainda estamos longe de uma taxa razoável de cidadania. Uma pesquisa do Instituto Adolfo Lutz analisou 74 remédios "naturais" destinados a emagrecimento –metade deles tinha produtos químicos que atuam no sistema nervoso central.
Vejam que curioso: tentamos ontem no Instituto Adolfo Lutz a lista de remédios fraudados para divulgá-las e advertir seus consumidores. Alegaram que a divulgação deveria ser feita pela Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde.
Na Vigilância Sanitária da Secretaria da Saúde não tinha ninguém para dar a informação. Pergunta: por que não divulgaram com alarde a lista? Por via das dúvidas, melhor que não se compre nenhum remédio "natural" para emagrecimento até a divulgação dessa lista.
O novo secretário da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, Elisaldo Carlini, preparou um dossiê com investigações em amostras de remédios. Até antibióticos fraudaram. Mas raros laboratórios são investigados e pouquíssimos remédios analisados pelas autoridades públicas.
Daí se vê como a cidadania no Brasil, apesar de todos os notáveis avanços, ainda engatinha.
PS – Já que o assunto é cidadania, registro aqui opinião de Júlio Ribeiro, dono de uma das maiores agências de publicidade. Ele afirma que todo empresário tem obrigações sociais. E, por isso, não aceita contas de cigarros, bebidas e governo. Disse que os três "fazem mal à saúde". Perguntei-lhe por que incluiu governo. "Publicidade de governo também mata", respondeu. E explicou: "O dinheiro que o governo desperdiça em publicidade, poderia, por exemplo, usar na saúde".

Texto Anterior: O inventário paulista
Próximo Texto: O novo Brasil
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.