São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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BC já detém controle de 80% dos bancos estaduais

FERNANDO GODINHO; GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Banco Central já controla 80% dos bancos estaduais do país. Levantamento feito pela Folha demonstra que este é um poder inédito na história do BC.
Diversos acordos fechados nos bastidores permitiram ao BC exercer, atualmente, controle direto ou indireto sobre os bancos de 19 dos 24 Estados da federação que possuem este tipo de instituição financeira.
Em Tocantins e Mato Grosso do Sul, o BC sequer permite que os governos estaduais criem bancos.
A influência do BC sobre o sistema de bancos estaduais ainda deverá ser ampliada. Na sexta-feira passada, o governo editou uma MP (medida provisória) abrindo espaço para a privatização dos bancos estaduais.
A MP determina que o BC poderá vender as ações destes bancos que estiverem sob regime de administração especial temporária, após desapropriá-las pelo critério de utilidade pública.
O Banespa e o Banerj, os dois maiores bancos estaduais do país, já estão sob administração especial desde o início do mês de janeiro.
Em outros bancos, há casos de administração compartilhada com os Estados, programas de saneamento financeiro submetidos ao BC e estratégias negociadas de privatização. No Rio Grande do Norte, o Badern está sendo liquidado pelo BC.
As negociações para o controle dos bancos estaduais começaram a ser costuradas após a eleição dos atuais governadores, em novembro último.
O então presidente do BC e hoje ministro da Fazenda, Pedro Malan, 51, conduziu os entendimentos sob a orientação política de Fernando Henrique Cardoso, na época presidente da República eleito.
Nos casos dos bancos de maior porte, como Banespa, Banerj, Bemge (MG) e Banrisul (RS), a equipe econômica teve a vantagem de ter, entre os governadores dos Estados, aliados políticos de FHC.
Outro trunfo da equipe foi trocar títulos estaduais por federais. Sem esta troca, os bancos dos Estados mais poderosos –e também mais endividados– quebrariam, pois os títulos estaduais não tem boa aceitação no mercado.
O governo pode, portanto, impor condições para continuar a troca.
Com os Estados menos importantes economicamente, o argumento foi mais simples: os bancos desajustados poderiam ser liquidados.
Essa possibilidade ajudou a convencer o governador de Alagoas, Divaldo Suruagy (PMDB), a negociar com o BC uma intervenção sobre o Produban, marcada para amanhã.
O BC é rigoroso nas negociações com Estados menores. O governador de Rondônia, Waldir Raupp (PMDB), se reuniu diversas vezes com o BC tentando capitalizar o banco oficial do seu Estado.
Não conseguiu resultados e já considera hipótese do Beron sofrer uma intervenção direta do BC. O Banacre (Banco do Estado do Acre) também passa por situação semelhante.
Entre os bancos que passarão por uma espécie de administração compartilhada entre o Estado e o BC, o mais importante é o Banrisul.
Em acordo com o BC, o governador do Rio Grande do Sul, Antônio Britto (PMDB), nomeou para o banco um presidente e uma diretoria de confiança da equipe econômica.
Outro aliado de FHC, o governador de Sergipe Albano Franco (PSDB), também nomeou para o Banese nomes de confiança do BC.
Mesmo governadores de oposição, como Miguel Arraes (PSB), de Pernambuco, Vítor Buaiz (PT), do Espírito Santo, e João Capiberibe (PSB), do Amapá, procuraram o BC para compor as diretorias de seus bancos estaduais.

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