São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Promessas animam de governador a colonos

ABNOR GONDIM
DA AGÊNCIA FOLHA, EM JACAREACANGA

O governador Almir Gabriel (PSDB) recebeu de FHC a garantia de que serão investidos R$ 2 bilhões no Pará para o governo federal concluir suas obras inacabadas no Estado.
Os principais investimentos são a recuperação das rodovias Transamazônica, Santarém-Cuiabá e BR-222, a conclusão das eclusas da Hidrelétrica de Tucuruí (300 km ao sul de Belém) e a construção de 1.059 km de torres de energia de Tucuruí a oeste do Pará.
"O governo federal investiu R$ 12 bilhões no Pará contribuindo para quadruplicar a sua população e agora, apenas com R$ 2 bilhões, concluirá suas obras", disse o governador.
A obra mais cara é o linhão de Tucuruí, no valor de R$ 241 milhões. Mas ela é considerada uma obra faraônica, de acordo com o pesquisador Ruy Bahia, da Universidade Federal do Pará.
"Com R$ 80 milhões, é possível recuperar as estações de energia a óleo diesel dos municípios da Transamazônica e oeste do Pará. Este megaprojeto hidrelétrico não tem relação com a baixa demanda elétrica regional", disse.
O deputado federal José Priante (PMDB), 30, diz que só poderá haver indústrias na região quando houver uma oferta abundante de energia.
Tantas promessas para a região reacenderam a esperança de moradores que já punham suas propriedades à venda.
Há duas semanas, o agricultor José Curioso da Silva, 67, decidiu retirar da margem da Transamazônica a placa "Vend-se Este Lote" (sem o "e" mesmo), depois que ouviu falar da promessa do presidente de recuperar a rodovia.
"Agora, a coisa vai", disse Silva, eleitor de FHC e um dos pioneiros na região aberta pela rodovia, onde chegou com mulher e oito filhos e recebeu do governo militar lote, casas e seis meses de salário mínimo.
"Tô velho e cansado, meus filhos moram na cidade, mas vamos esperar porque quem vende seu patrimônio sempre perde", afirmou o agricultor.
Outro pioneiro da Transamazônica animado com o futuro da rodovia é o baiano Alcides Alves Nascimento, 75, ex-barbeiro em São Paulo. De lá, ele saiu, em 1972, depois de ter ouvido no rádio a propaganda do governo recrutando pessoas para ocupar a Amazônia.
Bem-sucedido, com duas casas, três carros, três lotes e 96 mil pés de cacau plantados, Nascimento seria o último colono da Transamazônica a colocar suas terras para vender.
"Não tem lugar melhor para pobre viver do que aqui. Um exemplo disso é que, na Transamazônica, não existe ninguém pedindo esmolas", afirmou Nascimento.
A perspectiva de melhoramento na rodovia também anima o maranhense Antônio da Silva, 27, quatro filhos. Ele mora numa estrada vicinal, a 60 km da beira da Transamazônica.
"Daqui não saio nem se a rodovia fechar. Tem água à vontade, coisa difícil no Maranhão, onde morava", relata.
Segundo o prefeito de Uruará, Jailson Brandão (PPR), 35, o asfaltamento da rodovia pode provocar a entrada de grandes fazendeiros que vão querer comprar as terras dos colonos.
"O pior é que as pessoas voltam arrependidas, mas já sem dinheiro para adquirir a mesma quantidade e qualidade das terras vendidas", afirma o prefeito.
As esperanças do governador e de tantos colonos podem-se frustrar, no entanto. Apesar das promessas do presidente, não é consenso que a região seja uma das prioridades do novo poder (leia reportagem à página 15).

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