São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mundial pode unir coréias

DA REPORTAGEM LOCAL

A Coréia do Sul busca um lugar no seleto clube das nações desenvolvidas. A Coréia do Norte quer sair do desastre econômico.
Não é propriamente a paixão pelo futebol que move as Coréias a pleitear a realização da primeira Copa do terceiro milênio, em 2002.
Isso apesar de a Coréia ter mais tradicão futebolística do que seu rival, o Japão.
Em campo, o maior feito coreano foi desclassificar a Itália, de Facchetti, Mazzola e Rivera, da Copa de 1966. A proeza, uma vitória por 1 a 0, foi da Coréia do Norte.
Para a Copa dos EUA, coube à Coréia do Sul disputar e vencer uma vaga com o arqui-rival Japão.
Mas o cacife econômico e o poder de marketing nipônico deu aos japoneses a imagem de os donos da bola no Oriente. Na verdade, a bola mal começou a rolar naquela região do planeta.
Por critérios futebolísticos, porém, o Japão está em vantagem. A Copa consolidaria o futebol no país.
O principal trunfo das Coréias vem de outra esfera que não a bola de futebol. A Copa poderia ser o pontapé inicial para a reunificação.
Isso pode não interessar muito à Fifa, mas seria uma bênção para militares e diplomatas, tanto dos EUA, como da Europa, da China e até mesmo no Japão.
O paralelo 38, a fronteira entre as Coréias, é uma das regiões mais tensas do planeta. Os americanos, os chineses e os japoneses já fizeram guerra lá.
Basta lembrar que em dezembro do ano passado um helicóptero americano foi derrubado pelos norte-coreanos. Nem Saddam Hussein tem ousado tanto.
Esses jogos de guerra entre as duas Coréias têm sido desgastantes politicamente e caros para as finanças dos dois países.
A Coréia do Norte, um dos últimos dinossauros comunistas, é uma sociedade militarizada (um milhão de soldados) e devastada pela estagnação econômica.
A Coréia do Sul, uma das economias que mais crescem no mundo (em março vai se candidatar à OCDE, grupo de países desenvolvidos), é obrigada a hospedar 37 mil soldados americanos.
A relação entre os países vem melhorando gradualmente. Em 94, o Norte abandonou seu programa nuclear militar. O Sul já permite negócios de suas empresas com o regime comunista.
Mas ainda não existe uma iniciativa de ação conjunta.
Na Olimpíada de Seul, 88, os países tentaram formar equipes unificadas, mas não deu certo. A organização da Copa e uma seleção unificada poderiam funcionar.
A maior dúvida é a estabilidade do regime norte-coreano. Com a morte de seu pai, Kim Jong-Il virou líder do país. Mas não assumiu a presidência, que ficou vaga.
Analistas ocidentais acreditam que isso pode indicar uma divergência no PC.
Por outro lado, Kim tem fama de louco. Comprovadamente organizou atentados terroristas e sequestros.
Se achar que a Coréia do Sul está lucrando demais com a Copa, pode decidir "melar" o evento promovendo algum incidente.

Texto Anterior: CORÉIAS X JAPÃO
Próximo Texto: Japão anuncia que 'ama gols'
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.