São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Esquema Palmeiras vai chegar ao Mercosul, acha Waldir Espinoza

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O técnico Waldir Espinoza, 47, faz o tipo sincero. Não esconde que a força do Palmeiras vem dos cofres da multinacional Parmalat. Muito mais que uma administração profissional, a empresa impôs a lei do mais rico no Brasil.
Gaúcho, ex-jogador, "educado nos campos de futebol", Espinoza aposta na sua experiência para vencer seu desafio em São Paulo e seu segundo mundial de clubes.

O PODEROSO
A parceria com a Parmalat deu ao Palmeiras a possibilidade de fazer grandes contratações. Isso diminuiu para os outros clubes. Em vários Estados há equipes bem organizadas, mas que vivem um momento difícil. A grande vantagem do Palmeiras foi esse salto à frente em termos de contratação.

O COSMOPOLITA
Sempre desejei morar em São Paulo. Meus hábitos são mais de cidade grande do que do interior. Mas me adapto bem. Quando chego a um lugar, não trago a minha música para que os outros dancem. Eu ouço, vejo o que se está dançando e procuro acertar o passo.

O EXPERIENTE
Tive dois anos na Arábia Saudita. Muitos acham que não se aprende nada lá. Acho que é lá que se aprende. Você é mais exigido, tem de ensinar mais. Tenho alguns títulos, entre eles a Libertadores e o Mundial de Tóquio pelo Grêmio. Independente disso, estou sempre aprendendo.

O DEMOCRATA
O título no Palmeiras tem de ser de todos, da Parmalat, do clube, dos jogadores, do técnico e da torcida. Essa é a idéia que queremos passar. Eu nunca fui a peça principal das minhas conquistas.
Existem formas de se obter disciplina. A minha é o diálogo. Tem um ditado que diz: "O cavalo dá coice pois não sabe falar". Se pudesse falar não daria coice.
Não gosto de robôs, que só obedecem. Se você começa, fora do campo, a tirar personalidade dos jogadores, se fica acima deles, sufocando-os, eles não vão saber reagir em campo. Não gosto de monólogos. Não sou dono da verdade. E crítica pública não admito, mesmo porque não as faço.

O PSICÓLOGO
Todas as equipes se preocupam com o caráter de um jogador contratado. Mas há os fora-de-série. O Edmundo é um fora-de-série. Ele tem uma maneira de ser, de ver, que temos que entender. Você tem de conhecer o bom dia deles pela manhã, se veio bem ou soou mal. O Edmundo é rebelde, dizem. Não vejo rebeldia nele.

O ECONOMISTA
As pessoas acham que o cofre da Parmalat está aberto e é só pegar o dinheiro e comprar. Não é assim. Os investimentos são cuidadosos, buscando uma futura venda. É tudo profissional, criterioso. Assim a Parmalat é uma potência.
Não diria que os jogadores estão inflacionados. Eles procuram se valorizar. Os clubes às vezes é que cometem erros. Ninguém perde um time do dia para a noite. Quem sente a decadência primeiro começa a se reparar. Quem não sente, vai até o fundo do poço.
É difícil achar um jogador brasileiro de seleção por menos de US$ 3,5 milhões. O Mancuso (US$ 1,65 milhão) não veio só porque era mais barato, mas isso influenciou. É o Mercosul no futebol.

O TORCEDOR
A segurança é um fator fundamental na crise de público no Brasil. Mas só há uma maneira de atrair torcida: é ter um bom time. Nos EUA você vai ver um jogo, tem todo um espetáculo. Aqui pode haver shows, mas a atração da festa são os bons times.

O POPULAR
O sucesso não aborrece, não muda a minha vida. Trato o torcedor com muito carinho, é minha obrigação. Aqui não está só o Espinoza, está o Espinoza treinador do Palmeiras e da Parmalat. Qualquer deslize e posso atingir a imagem do clube e da empresa.
Tenho duas palavras boas para períodos de sucesso e de baixa: isto passa. Sempre me lembro disso.

O ESTETA
Hoje está mais difícil jogar um futebol bonito e vencer. Para dançar bonito, os dois parceiros têm de dançar bem. Se um dançar mal, não dá. Há adversários que só se defendem. Se um time só se defende, o jogo deixa de ficar bonito.
Mas o bonito é relativo. Jogar sério, para vencer, é jogar bonito. Não é o drible desnecessário, o toque a mais. O bonito é simples.

O POLÍTICO
O Brasil sempre viveu expectativas: agora vai. Como no governo Collor, que seria a redenção. Não foi. O brasileiro tem um poder muito grande de assimilação e criou uma nova euforia, que estamos vivendo hoje. Só que com um homem altamente capacitado. Acho que FHC é a cara do Brasil, uma cara limpa e alegre.

O LIBERAL
Não me sinto embaraçado pelo meu salário. Não cheguei aonde estou do dia para a noite. E não ganho o bastante para resolver o problema de todos. Quanto ao salário mínimo, é claro que seria ótimo se todos tivessem salários japoneses, mas quem pagaria a conta no segundo mês?
(HuSa)

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