São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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A rede de influência na Internet

PAULO FERNANDO SILVESTRE JR.
DA REPORTAGEM LOCAL

Com a entrada da Embratel na parte comercial da Internet –a maior rede de computadores do mundo–, a sociedade brasileira não-acadêmica prepara-se para encarar uma nova realidade no mundo das comunicações, dos negócios e, como em qualquer grupo organizado, de poder.
Ao contrário do que se poderia supor, quem "manda" na rede não são as grandes organizações. "Deve-se lembrar que um dos problemas ou vantagens da Internet é que ela não tem um único dono", diz José Barletta, diretor do escritório para a América Latina da Internet Society.
"Os donos são os subdonos de cada uma das grandes redes que estão interatuando na Internet", segundo ele.
A Internet Society, da qual pertence Barletta, é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 1992, que cuida de assuntos ligados à rede, principalmente o que se refere a definições de seus padrões.
Como grande usuário da rede, a Society participa ativamente das discussões dos fóruns eletrônicos, onde podem ser encontrados assuntos capazes de agradar até os mais exóticos usuários.
Apesar das declarações de Barletta, é fácil imaginar que a opinião de uma grande organização, como a Internet Society, tem grande peso nas discussões.
Encarregada de servir como fórum de discussão de grandes temas, ela pode influenciar no andamento de muitos grupos (fóruns), apesar da propalada ausência de censura que norteia a rede.
Em meados do ano passado, o "New York Times" detonou uma polêmica, estampando, em sua primeira página, o encerramento de um fórum de cunho feminista na rede.
Segundo o jornal, o fim do grupo foi patrocinado pela Internet Society, que teria considerado as discussões impróprias, pois algumas das participantes não estariam "preparadas" para o material presente no grupo.
A Folha ouviu a Internet Society sobre o assunto. A entidade negou ter poder de fechar sumariamente um grupo, podendo, no máximo, fazer sugestões sobre seu andamento, como qualquer outro usuário, o que teria acontecido no caso do grupo feminista.
Grupos são, entretanto, fechados aqui e acolá, nos incontáveis nós da rede espalhados por todo mundo. Quando um usuário se depara com o "desaparecimento" de um grupo, então ele encontrou um "centro de poder" da Internet.
"Suponha que eu criasse um grupo. Da mesma forma que o crio, vou embora", explica Barletta. Quem controla uma das diversas redes ligadas à Internet (um dos "subdonos" citados por Barletta) e seu servidor –computador onde ficam gravadas todas as informações do grupo– pode simplesmente apagar tudo relativo ao fórum, deixando um número incerto de "assinantes órfãos".
Ocorrências como essa não acontecem com frequência e, na maioria dos casos, ocorrem em grupos que não deram certo. O insucesso vem quando poucos usuários se entusiasmam com o assunto discutido no grupo (ou não ficaram sabendo de sua existência).
Brigas
O poder na Internet também se manifesta através da intolerância, como também acontece no "mundo real".
A entrada dos novos usuários da parte comercial, na maioria dos casos sem a menor experiência na rede, perturbou a "tranquilidade" do mundo acadêmico –que desde o início controlou a Internet.
Muitos "habitués" da rede têm se irritado com perguntas inocentes e operações desastradas dos novatos. Em represália, os primeiros não pensam duas vezes em "queimar" os segundos com mensagens agressivas ou grosseiras.
Segundo Barletta, os usuários tradicionais "sentem-se um pouco parte da própria rede" e estariam sendo "invadidos" por pessoas que, "há apenas dois anos, sequer sabia o que era a Internet e hoje estão trazendo grandes decisões de negócios, tirando o máximo proveito da rede".
Apesar dele próprio ser um usuário veterano, acha muito positivo a entrada de usuários comerciais na Internet. "É a melhor forma de democratizar o processo de manejo de informações", diz.

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