São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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China faz campanha contra nomes repetidos

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China faz um apelo a seus casais: sejam criativos na hora de escolher um nome para os filhos. O país busca sair do labirinto criado pela repetição excessiva de nomes numa população de 1,2 bilhão de pessoas.
Cinco sobrenomes (Li, Wang, Zhang, Liu e Chen) identificam 30% dos chineses. Tianjin, uma cidade do norte com quase 5 milhões de habitantes, registra a presença de 2.300 pessoas chamadas Zhang Li. Um detalhe: na China, o sobrenome aparece antes do nome.
O "China Daily", jornal oficial em inglês, disparou a campanha semana passada e alinhou exemplos sobre a falta de criatividade nas carteiras de identidade. Usou um estilo feito por pesquisadores do Instituto de Genética da Academia Chinesa de Ciências.
A pesquisa endossou uma reclamação feita há tempos por professores, por exemplo, desnorteados pelas dificuldades ao enfrentar uma sala de aula com vários alunos de mesmo nome. A polícia também perde tempo na hora de identificar homônimos.
Yuan Yida e Du Ruofu, professores do Instituto de Genética, mergulharam no estudo dos sobrenomes chineses. Recolheram 11,9 mil, muitos dos quais já desapareceram.
O estudo se concentrou na etnia han, que responde por 92% da população chinesa. Existem mais 55 grupos étnicos espalhados pela China.
Os professores Yuan e Du calculam existir hoje, entre a etnia han, 3,6 mil sobrenomes, dos quais os 120 mais comuns são usados por cerca de 100 milhões de chineses.
Levando em conta a dimensão continental da China, o estudo também mapeou a origem geográfica dos sobrenomes. Os Wang correspondem ao grupo mais numeroso no norte, enquanto Chen predomina no sul do país.
"Com o tempo, os sobrenomes mais comuns tendem a se tornar mais presentes e os mais raros vão desaparecendo, até se extinguir completamente", escreveu o "China Daily".
"Comparado com nossa vasta população, o número de sobrenomes em uso é limitado".
Portanto, a receita é inventar nomes para ajudar na diferenciação. Outra dica: tentar evitar os nomes usados tanto por homens como mulheres, bastante comuns na China de hoje. É o caso de Li Hong, por exemplo.
Os nomes chineses também carregam um significado e já refletiram os rumos políticos do país, como na Revolução Cultural. Ocorrida entre 1966 e 1976, representou um período de radicalização das teorias maoístas.
Naqueles anos turbulentos, nomes como Hong (vermelho) e Jun (exército) desfrutavam de bastante popularidade e houve também muitos casos de adultos que mudaram seu nome em busca de uma expressão que evidenciasse a lealdade ao Partido Comunista.
Existe também a crença de que o nome vai influenciar a personalidade e o destino da pessoa. Quem se chama Wei Jiang estaria com uma missão ecológica. Os caracteres chineses que compõem o nome significam "preservar ou construir o Xinjiang", uma província no oeste da China.
Um hábito curioso persiste entre os camponeses na China. Muitos deles acreditam que ser dono de um nome "ruim" ajuda a trazer sorte e por isso não é difícil achar no interior alguém chamado Gou Sheng. Significado: abandonado por um cachorro.

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