São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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O Exército e o Rio

A prorrogação, até o início de março, do convênio entre o governo do Rio e a União no combate à criminalidade é justificada. Por mais que o envolvimento das Forças Armadas em atividades que não suas tarefas clássicas deva ser visto com extrema cautela, ainda prossegue a situação excepcional que motivou a Operação Rio.
A sensação de insegurança que vinha tomando a população, a impressão de que o poder público havia encontrado barreiras intransponíveis nos morros e favelas cariocas sem dúvida diminuiu com a intervenção militar. Este, porém, é apenas um efeito colateral da operação, não sua finalidade.
Mais do que pela repressão temporária e paliativa da naturalidade com que os traficantes vinham agindo no Rio, a ação das tropas justifica-se por dar tempo ao novo governo para começar a reestruturar suas forças policiais, há muito incapazes de cumprir seus deveres.
Seria evidentemente irrealista esperar que a nova administração estadual pudesse avançar minimamente nessa questão em apenas três semanas. É preciso contudo determinação e presteza da parte do governador. Como se disse, a presença dos militares nas ruas é excepcional. O acordo não pode continuar a ser prorrogado sob pena de criar uma grave distorção institucional.
Cabe ao Executivo fluminense empenhar-se para chegar até 3 de março com reformas adiantadas o bastante para que o Estado reassuma seus deveres e as tropas retornem aos quartéis.
Deve-se ainda cobrar a mesma diligência e esforço na parte que cabe ao governo federal. A situação de hoje é tanto responsabilidade das forças estaduais como da Polícia Federal. É esta a encarregada de impedir a entrada dos fuzis chineses e da droga colombiana que alimentam a brutalidade no Rio.
A injustificada demora do Executivo na indicação da chefia da PF revela assim um descaso inaceitável face a um problema tão grave.
Ressalte-se, por fim, que a tarefa do governador do Rio é muito maior do que apenas reformar a força policial. Se é indispensável combater os sintomas da violência, é preciso atacar também suas causas. É preciso que o poder público invada os morros com saúde, com educação, com saneamento –além da segurança–, reduzindo o espaço de ação do crime organizado.
Essa invasão de cidadania é sem dúvida mais lenta, mas é igualmente urgente. Sem ela, no médio prazo, o máximo que se pode esperar é um Estado mais forte lutando contra traficantes mais fortes.

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