São Paulo, domingo, 22 de janeiro de 1995
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Máfia e remédios

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – A imensa maioria dos pais não sabe: depois do álcool e do fumo, as drogas lícitas (calmantes, bolinhas) são as principais causadoras de dependência física e psicológica entre os jovens brasileiros. Daí estar em preparação uma ofensiva do Ministério da Saúde para enfrentar máfias que operam no câmbio negro.
O consumo de drogas lícitas, danosas à saúde se usadas indiscriminadamente, é maior, hoje, do que cocaína ou crack. São informações da Escola Paulista de Medicina.
A máfia nutre-se de instrumentos como laboratórios e farmácias clandestinas, contrabando de remédios ou matéria-prima (morfina, benzodiazepínicos, anfetamínicos). Há suspeita do Ministério da Saúde de que inclusive médicos vendam receitas.
A idéia da Vigiliância Sanitária é apenas obrigar as farmácias a cumprirem a lei –uma lei hoje desrespeitada em todo o país, o que, mais uma vez, mostra como o cidadão brasileiro, apesar de todas as conquistas é, basicamente, um órfão.
Toda a vez que um médico receita um remédio que produza uma dependência química e psíquica, ele é obrigado a preencher uma notificação, a ser guardada pela farmácia. Deve dar seu nome, do paciente, com respectivo endereço, e do remédio.
Esse procedimento foi implantando em outros países e revelou descobertas espantosas: médicos que viviam apenas de dar receita de remédios que produzem dependência.

PS – Por falar em drogas, merece registro (e elogio) decisão do secretário da Receita Federal, Everardo Maciel: foram apreendidos 70 mil pacotes de cigarros contrabandeados. O que equivale 1,4 milhão de carteiras e, portanto, 28 milhões de unidades. Ele mandou queimar: graças, aliás, a um dispositivo incluído recentemente numa medida provisória. Perguntaram se não seria melhor vender como se fazem com demais produtos apreendidos. Sua resposta: "Depois o governo vai ter de pagar a conta em hospital".

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