São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Para Bird, a crise mexicana é isolada

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Banco Mundial (Bird) divulgou ontem em Washington o seu 15º relatório anual sobre dívida e investimentos no mundo. A principal conclusão é que caíram muito os investimentos especulativos nos mercados de capitais em 1994, enquanto cresceram os investimentos diretos.
"Os recentes problemas enfrentados pelo México ilustram dramaticamente como são voláteis alguns tipos de fluxo de capital privado para países em desenvolvimento", diz Michael Bruno, economista-chefe do Banco.
Mas Bruno também afirma que apesar dessas "recentes dificuldades", as análises do Banco "continuam a sugerir que os fatores que possibilitaram a inversão de capital são estruturais" e não foram revertidos pela crise.
A divulgação do relatório transformou o debate sobre o documento em uma discussão sobre a possibilidade de extensão da crise mexicana para outros países do chamado Terceiro Mundo, como a Argentina e o Brasil.
Em encontro com jornalistas de diversos países para analisar o relatório, Bruno afirmou que "se você depende muito do ingresso de capital de curto prazo, você está fazendo um convite à volatilidade".
Para o economista, isso depende das políticas monetária e fiscal de cada país. Embora Bruno tenha afirmado que há um mês não teria expressado em público sua opinião sobre o futuro do México, "havia motivos para apreensão".
Para ele, o episódio mexicano é isolado e não há "uma crise sistêmica". Por isso, não há por que se prever "efeitos de contágio" em outros "mercados emergentes".
"Isso não quer dizer que uma crise financeira não possa se transformar numa crise sistêmica se as coisas ficarem fora de controle", ressalta Bruno que, no entanto, crê não ser este o caso atual.
Para o economista, o México vem realizando já há dez anos "um processo sério de reformas". Ele reconhece que ainda há "problemas estruturais" na economia mexicana, mas acha que eles podem ser resolvidos depressa.
"Quando você olha a crise mexicana agora e a compara com a de 1981, a atual parece mais profunda. Mas não é, porque ela é apenas financeira. Quando se cuidar dela e a credibilidade for retomada, a crise acaba."
O relatório do Banco Mundial mostra que o total de investimentos privados nos países em desenvolvimento chegou a US$ 173 bilhões em 1994, mais de quatro vezes mais do que o registrado em 1989.
O capital privado agora representa três quartos do fluxo financeiro para o Terceiro Mundo, em comparação com 44% em 1990. Mas a maioria absoluta desse dinheiro se destinou a uns poucos países, o México entre eles.
Desde 1989, o México só recebeu menos capital privado do que a China. Em terceiro lugar ficou a Argentina; em quarto, a Tailândia; em quinto, a Coréia; e, em sexto, o Brasil, com cerca da metade dos investimentos feitos no México.
Embora reconheça que o aumento no ano passado das taxas de juros no mercado interno norte-americano tenha feito arrefecer o aumento desse fluxo, o relatório acha que ele continuará crescendo devido às mudanças estruturais realizadas nas economias dos países beneficiários.
Os países mais pobres do mundo, em especial os da África, continuam dependendo apenas de fontes oficiais de financiamento e investimento. Quase todo o investimento de capital privado ocorreu na América Latina e Ásia.
A crise mexicana demonstrou também como o Banco Mundial e seu parceiro, o Fundo Monetário Internacional, perderam importância para os países em desenvolvimento na última década.
"Os ministros latino-americanos agora vão direto aos operadores em Wall Street e não mais à rua 19, em Washington" (onde BIRD e FMI estão sediados), diz Moises Naim, analista do Carnegie Endowment.
Julio Lastres, economista do Banco, está de acordo e acha que esse fato é o reconhecimento do sucesso das políticas do FMI e do BIRD: "Os mercados se tornaram os vigilantes do sistema."

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