São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Diminui ritmo de investimento externo

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

A torrente de recursos externos que inundou alguns países em desenvolvimento nos últimos anos vai continuar, mas em ritmo bastante mais lento.
A estimativa consta de amplo estudo divulgado ontem pelo Banco Mundial, sob o título "Financiamento Externo para Países em Desenvolvimento".
O relatório deixa claro, aliás, que a desaceleração já se iniciou no ano passado.
Mas, de 93 para 94, o aumento foi inferior a 9%, com o fluxo total atingindo a marca de US$ 172,9 bilhões, de acordo com a primeira estimativa da instituição.
A desaceleração nem remotamente significa uma reversão do processo de crescimento dos fluxos de capital para o mundo em desenvolvimento, diz o relatório.
"O fluxo de capitais privados tende a continuar aumentando no médio prazo, embora a um ritmo muito mais lento do que no início dos anos 90", afirma o documento.
É importante notar que o relatório foi fechado em novembro, um mês antes, portanto, da eclosão da crise mexicana, que pode ter alterado a disposição dos investidores internacionais em relação aos países em desenvolvimento, em especial os da América Latina.
"Se estivesse sendo escrito agora um apêndice ao relatório, seria certamente mais cauteloso", comentou à Folha o ministro brasileiro da Fazenda, Pedro Malan.
O relatório faz avaliações diferenciadas a respeito dos três componentes básicos desse fluxo, a saber: investimento direto, investimento em ações e empréstimos novos tanto de bancos comerciais como de fornecedores.
É otimista a respeito do primeiro (investimento direto) e cauteloso nos dois outros componentes.
Sobre o investimento direto, em tese o mais saudável, diz o Banco Mundial:
"A aceleração de tal tipo de investimento se vê impulsionada por empresas internacionais que tratam de aplicar estratégias mundiais de produção, aquisição e comercialização. (...) Trata-se de fatores estruturais, não cíclicos, e é provável que, nos próximos anos, se vejam reforçados pelos dispositivos da Rodada Uruguai".
A Rodada Uruguai, completada em 1994, significou a mais completa negociação global com vistas à liberalização comercial, com óbvios efeitos positivos sobre a economia mundial.
Os números relativos ao período 92/94 parecem dar razão à expectativa do banco.
Embora também o investimento direto tenha conhecido uma desaceleração no crescimento em 1994, aumentou mais (17%) do que o fluxo geral de capitais privados, que só cresceu perto de 9%.
Sobre os dois outros tipos de capitais, diz o relatório:
"Não parece provável que os investimentos líquidos em carteiras (de ações) de 1994 alcancem o nível sem precedentes de 1993".
"Os empréstimos novos de credores comerciais (bancos e fornecedores) aos países em desenvolvimento continuarão sendo moderados e se concentrarão em tomadores solventes, especialmente da Ásia oriental".
Quanto ao investimento direto, ele se concentra maciçamente em apenas duas áreas geográficas, a Ásia Oriental/Pacífico (o habitat dos chamados "tigres") e a América Latina/Caribe.
Essas duas áreas captaram 79% do investimento direto estrangeiro no período 90/93. A Ásia ficou de longe com a maior fatia (55%), cabendo à América Latina os restantes 24%.
Por esses dados, fica evidente que os antigos países comunistas, cinco anos após o início do processo de reformas, ainda não conseguiram se tornar suficientemente atraentes aos olhos dos investidores internacionais.
Malan acha que ainda demorará algum tempo para que isso ocorra, posto que tais países necessitam "uma construção institucional" que, bem ou mal, os países latino-americanos já possuem.

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