São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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No Brasil, investimento ' volátil' supera produtivo

País perde para México e Argentina na captação externa

CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

As tabelas divulgadas pelo Banco Mundial e que vão apenas até 1993 demonstram que, no Brasil, as entradas de capital especulativo (ou "volátil", como prefere o relatório) superaram nitidamente os investimentos produtivos.
Em todo o caso, o ministro da Fazenda, Pedro Malan, adverte que nem todo investimento em ações é especulativo. "É difícil distinguir a priori o quanto é capital especulativo e o quanto não é", diz.
Em 1993, o investimento direto foi de US$ 802 milhões e a remessa de lucros atingiu US$ 2,139 bilhões.
Aliás, nos anos 90, só em 1992 o investimento direto (US$ 1,454 bilhão) superou o valor da remessa de lucros (US$ 834 milhões).
Além disso, o Brasil perde longe para dois países latino-americanos em investimento estrangeiro direto. Captou apenas US$ 4,129 bilhões de 1990 a 1993, atrás do México (US$ 16,6 bilhões) e da Argentina (US$ 14,759 bilhões).
Com a crise mexicana, é previsível uma retração maior do investidor, admitida pelo ministro Malan.
Aliás, o ministro lembra que, antes mesmo da explosão no México, o aumento dos juros nos Estados Unidos, que duplicaram em 94, já havia provocado um redirecionamento dos investimentos.
"É natural, dado que investir nos Estados Unidos representa praticamente risco zero", diz Malan.
O ministro garante que esse dado já "estava incorporado às análises da equipe econômica" antes mesmo do episódio no México.
Nem por isso, Malan imagina que a crise mexicana deixará de ter novos efeitos negativos sobre o investimento externo em países em desenvolvimento. Mas matiza a avaliação.
"No mundo crescentemente integrado em que vivemos, é claro que esse episódio tem efeito e impacto. Mas a capacidade de os investidores externos distinguirem hoje entre as situações de cada país é infinitamente maior do que em 1982", afirma Malan.
É uma referência ao ano em que explodiu a chamada crise da dívida externa, a partir, como coincidência, da inadimplência do mesmo México, o que afetou todos os demais devedores, inclusive, é óbvio, o Brasil.
Malan diz que "a melhor reação que, nós, brasileiros, podemos ter à crise do México é mostrar a maior determinação para fazer o ajuste fiscal e as reformas constitucionais".
Com isso, acredita, ficaria demonstrada a solidez da economia brasileira, óbvio fator de atração de capitais.
O relatório do banco parece dar razão a Malan, ao listar alguns pontos que facilitam o afluxo de capitais.
Entre eles, "reduzir os déficits orçamentários de grande magnitude e corrigir os problemas estruturais, como o excesso de intervenções públicas e as distorções do mercado trabalhista".
Mas o Banco Mundial insinua também que é importante "reduzir os níveis artificialmente altos das taxas de juros". O governo brasileiro vem mantendo taxas elevadas e é exatamente esse um dos fatores que mais estimulou o ingresso de capitais, pelo menos os " voláteis".

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