São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Índios vivem clima de guerra no Maranhão

CRIS GUTKOSKI
DA AGÊNCIA FOLHA, NO MARANHÃO

Duas pequenas cidades do Maranhão vivem em clima de guerra desde dezembro, quando foram iniciadas e, logo depois, suspensas as demarcações das aldeias indígenas dos krikatis, em Montes Altos (694 km de São Luís), e dos guajás, em Bom Jardim (275 km da capital).
Os protestos contra a demarcação partem de políticos locais, fazendeiros, empresários, posseiros e pequenos lavradores, e têm colocado em risco a vida de índios, funcionários da Funai (Fundação Nacional do Índio), padres e técnicos das empresas de demarcação.
"Fomos ameaçados de morte", afirma o diretor da Divisa Topografia e Planejamento Ltda, Fernando Gonçalves de Melo, 39.
A empresa venceu a licitação para demarcar a área guajá e precisou paralisar os trabalhos seis dias depois de iniciados.

Morte
Na semana passada, a confusão entre o que é terra de índio e terra de agricultores instalados nas aldeias resultou na morte do índio guajajara Manoel Mendes, 46.
Ele foi baleado na cabeça –supostamente por um posseiro– quando ia para a roça, dentro da aldeia krikati. Os índios prometem vingança e circulam armados de facões e revólveres pela aldeia no dia do enterro de Mendes.
As demarcações custam R$ 170 mil cada e serão pagas pela Funai com recursos do Banco Mundial.
Policiais federais contratados para proteger os agrimensores abandonaram as aldeias no final de dezembro devido aos protestos dos manifestantes e à falta do pagamento das diárias de R$ 51.

Medo
"A Funai está com medo", afirma o líder krikati José Torino, convencido da iminência do conflito.
Os fazendeiros e lavradores não aceitam o tamanho de cada aldeia e estão dispostos a brigar pelas terras que possuem dentro das áreas que, segundo portarias do Ministério da Justiça de 1992, pertencem aos índios.
"É impossível o governo fazer uma injustiça dessa com os pobres", queixa-se o agricultor Francisco Feitosa Fernandes, 45, pai de cinco filhos.
Ele diz ser dono de 120 hectares que estão na área dos guajás. "Se eu perder a terra é melhor perder logo a vida."
A extensão das aldeias é outro motivo para protesto. Com a demarcação dos krikatis, o município de Montes Altos ficará reduzido à metade.
Segundo os diretores das empresas de demarcação, os trabalhos só serão reiniciados se a Funai e o governo federal garantirem proteção policial.
Mas o reforço policial pode acirrar ainda mais o conflito. "O ministro que mandar continuar a demarcação vai ser responsável pelo sangue que será derramado", afirma o coronel João Ribeiro da Silva Jr., 60, sogro e chefe de gabinete da prefeita de Montes Altos.

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