São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Caniggia vive 'síndrome de Romário' e planeja voltar

RICARDO SETYON
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LISBOA

O argentino Cláudio Paul Caniggia, 27, continua com os longos cabelos loiros que fazem o desgosto do técnico da seleção de país, Daniel Passarela.
Sua relação com a torcida, entretanto, mudou muito nos últimos cinco meses, período em que passou a jogar no futebol português.
Distante do tempo em que era aclamado pelos "inchas" argentinos, ele reclama do excesso de cobrança e diz que só pretende continuar em Portugal até o fim da temporada.
Na entrevista exclusiva que concedeu à Folha em Lisboa, Caniggia diz que sente saudades de seu país.
Por conta dessa "síndrome de Romário", ele afirma que em breve pretende voltar a jogar em um grande clube argentino.
Mas não descarta experiências em outros países, especialmente no Brasil.

Folha - Como tem sido sua relação com a torcida portuguesa?
Caniggia - Aqui os treinamentos são fechados a todos. Nem jornalistas, nem torcedores, ninguém pode assistir.
E isto é ordem do nosso técnico, Arthur Jorge. É muito estranho poder ver os nossos torcedores somente durante os jogos.
Folha - Você já tem mais de dez gols aqui, mas é muito criticado.
Caniggia - É verdade. Não é fácil adaptar-se ao futebol português, no qual existem somente três times que lutam pelo título.
Eles esperam muito de mim e acham que posso, sozinho, fazer tudo. O time é bom, mas as expectativas são muito grandes.
Folha - Porque você veio para o Benfica?
Caniggia - Agora, após cinco meses, já posso dizer que durante a tratativa com o Benfica tive ofertas muito sérias, principalmente da Inglaterra e da Espanha.
A minha escolha pelo Benfica foi em razão de um fator muito importante: o time português está disputando a Copa de Campeões da Europa, e eu sempre sonhei em participar desse torneio.
Aqui, ao contrário do que muitos pensam, ganho exatamente o mesmo que no Roma.
Folha - Até quando você deve ficar por aqui?
Caniggia - Acredito que jogo pelo Benfica só até o fim desta temporada.
Quero muito voltar a jogar na Argentina e creio que já na próxima temporada estarei numa das duas grandes equipes do campeonato argentino.
Tenho saudade do meu país e posso jogar ao lado de outros grandes que voltaram para lá.
Folha - Você ainda quer jogar por muito mais tempo, não?
Caniggia - Sim. Sinto-me em excelente forma. Hoje, com 27 anos, cheguei a uma maturidade que nunca tive. Corro mais veloz do que nunca. Sinto-me como quando tinha 14 anos e competia em torneios de atletismo. Sempre era o mais rápido nos 100, 200 e 400 metros. Quero jogar pelo menos até os 33 ou 34 anos e marcar muitos gols.
Folha - A história de que não foi convocado por causa de seus cabelos compridos, é verdade? Caniggia - Esta é uma das maiores inverdades que já ouvi, que em todo o mundo foi continuamente publicada.
Nunca ninguém me disse para cortá-los nem penso em fazer isso nos próximos anos. Amo meus cabelos e cuido deles para que continuem assim.
Não acredito que alguém, nem Passarela, possa acreditar que graças a cabelos curtos alguém possa jogar melhor ou pior.
Não fui convocado por Passarela e esta é a primeira vez que isso acontece desde que estreei na seleção, em 1985. Mas acredito muito que para a Copa América vestirei a camisa da Argentina.
Folha - E a Itália? Você voltaria para lá? Quais foram os contatos com times brasileiros?
Caniggia - Não quero mais voltar para a Itália. Foram seis anos e agora quero outros objetivos. Chega de Itália!
Em relação ao Brasil, sei por meu procurador que três times brasileiros gostariam de assinar um contrato comigo.
Foram feitos contato pelo Flamengo e o Palmeiras, por exemplo. Não excluo de modo algum o Brasil do meu futuro. Seria uma aventura interessante.
Folha - Por enquanto, aqui em Portugal, quais são os seus melhores amigos?
Caniggia - Tenho em Edílson e Mozer dois grandes companheiros. Sempre me dei bem com brasileiros.
Folha - Já superou a crise que passou, após a suspensão do futebol, em consequência do seu envolvimento com cocaína?
Caniggia - Sem dúvida. Estou bem e quero esquecer o que aconteceu. Não tenho problemas hoje e não quero que me julguem por esta história, mas sim pelos gols que marco e ainda marcarei.

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