São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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Amostra do caos

O censo reservado feito pelo governo de Minas Gerais é uma amostra objetiva das vergonhosas distorções que ocorrem nas máquinas públicas de quase todo o país.
O empreguismo e as irregularidades constatadas não são, com certeza, exclusividade de Minas Gerais. E, se os dados obtidos denunciam uma situação lastimável, também permitem que o governo tome medidas corretivas –se tiver determinação para tanto, é claro.
Constatou-se que 22 mil pessoas recebem salários do Estado sem nem mesmo ir ao trabalho. E são quase 24 mil os que exercem funções para as quais não têm a escolaridade correspondente. Oito mil funcionários sem o 1º grau completo ocupam cargos para os quais se exige formação de nível técnico ou universitário. Do total de cerca de 349 mil funcionários, 60,7% foram admitidos sem concurso público.
Essas são distorções que o censo encomendado pelo governo anterior conseguiu constatar. Mas nada garante que os número reais não sejam ainda mais absurdos. No Brasil, lamentavelmente, o uso viciado da administração direta, de empresas e instituições do Estado como instrumento de interesses particulares dos grupos políticos que os governam tem sido quase uma regra.
Desde o final do regime militar as possibilidades de fiscalização dos governantes por parte da população cresceram. Mas, até o momento, os resultados concretos obtidos ainda são absolutamente insatisfatórios.
A democracia permitiu que os desmandos ganhassem transparência e, em alguns casos, fossem revertidos. Mas mesmo um fato então inédito no mundo como o impeachment do presidente da República por corrupção não foi capaz de conter a ação inescrupulosa de grandes parcelas da representação política do país e dos interesses privados a elas associados.
O censo realizado em Minas Gerais é apenas mais uma evidência de que o país tem um longo caminho a percorrer até que na gestão da coisa pública prevaleça de fato o interesse público.

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