São Paulo, segunda-feira, 23 de janeiro de 1995
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É bom, mas é pouco

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – O relatório do Banco Mundial sobre financiamento externo aos países em desenvolvimento permite incontáveis reflexões, mas uma delas é a mais relevante, do ponto de vista do Brasil: por mais que chova dinheiro sobre os países ditos emergentes, ainda não se inventou substituto de fato eficaz para a poupança interna.
Em primeiro lugar, porque, até 1993, entrou muito mais dinheiro especulativo do que produtivo. É verdade que não é justo considerar 100% especulativo o capital que se dirige aos papéis e que forma o grosso do investimento estrangeiro que veio para o Brasil.
Mas, de toda forma, ninguém de bom senso discordará que o investimento direto é o mais saudável de todos. E este veio em quantidades significativamente reduzidas, na comparação com o dinheiro colocado em ações, que o próprio Banco Mundial considera "volátil".
Em segundo lugar, só mesmo o mais delirante dos otimistas poderá supor que as ciclópicas necessidades brasileiras de recursos para investimento (social ou em infra-estrutura) serão minimamente cobertas pelo capital externo. Veja-se que, de 1990 a 1993, os quatro anos de explosão do financiamento externo para o mundo em desenvolvimento, o Brasil captou apenas US$ 4,1 bilhões.
É bem menos, por exemplo, do que o rombo potencial no Orçamento de 1995, calculado em algo próximo dos R$ 11 bilhões.
É claro que sempre se pode apostar no otimismo e imaginar que o fluxo vá aumentar muito doravante. Afinal, se com a economia desorganizada pela superinflação, o país ainda conseguiu ser atraente para alguns investidores. com a estabilização (se vier de fato), ficará ainda mais apetitoso.
Mesmo que isso ocorra, entretanto, é bobagem supor que os investimentos diretos possam ser desviados do que é, hoje, o seu foco principal (a Ásia dos "tigres") e migrar pesadamente para o Brasil.
Não se trata mais de uma questão de xenofobia, de rejeição figadal ao capital externo, supostamente predador. Agora, é uma mera questão de quantidade. E a quantidade é claramente insuficiente.

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