São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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Publicidade às claras

As relações do poder público com empresas ou prestadores de serviços do setor privado têm necessariamente de ser pautadas pela mais absoluta transparência. O histórico do Brasil nessa área e o montante de recursos do contribuinte –ou seja, de cada um de nós– envolvidos em ações governamentais faz com que qualquer tipo de conduta anormal deva ser evitada a todo e qualquer custo.
Nesse sentido, chamam a atenção como bastante impróprias as ligações que têm sido divulgadas entre Fernando Henrique Cardoso e os publicitários Nizan Guanaes e Geraldo Walter, das agências DM9 e CPP (agora rebatizada de DM9 Institucional). As informações são de que estes dois profissionais vêm prestando uma espécie de assessoria informal e gratuita para a Presidência na área de marketing.
Pode até ser que não haja nada de ilegal na prestação graciosa de serviços –se é disso mesmo que se trata. Ainda assim, é uma situação absolutamente inadequada que acaba como que colocando o governo na indevida posição de devedor de favores. Uma posição, desnecessário dizer, que inevitavelmente levanta muitas suspeitas.
Note-se ainda que os dois publicitários em questão participaram da campanha eleitoral de Fernando Henrique. A história política recente do país traz péssimas, mas ilustrativas memórias acerca dos frutos possíveis desse tipo de vínculo e basta para exigir do governo que –diferentemente do que vem fazendo– se relacione com a área publicitária da forma mais clara, aberta e inequívoca possível.
Dada a situação atual, qualquer participação das agências envolvidas em camapanhas do governo na área de propaganda fatalmente será cercada de interrogações. Isso, por mais conceituadas e competentes que sejam as empresas e mesmo no caso de uma licitação legítima –a qual, nunca é demais lembrar, constitui a forma legal apropriada para a contratação desses serviços.
É preciso que o governo prontamente esclareça e ponha um fim a essa situação nebulosa. A bem da sua própria imagem.

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