São Paulo, quarta-feira, 25 de janeiro de 1995
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São Paulo dá o tom

MARCOS AUGUSTO GONÇALVES

SÃO PAULO – São Paulo chega a seus 441 anos como uma cidade muito mais "brasileira" do que a cultura litorânea –especialmente a carioca– poderia imaginar há anos atrás.
A cidade que extraía seu reconhecimento do fato de ser uma exceção –"aquele outro país", como diziam no Rio, onde não tem praia e motorista de táxi despede-se desejando "bom trabalho"–, tem hoje uma identidade mais próxima do que parece ser a vontade nacional.
Mudou o país ou mudou São Paulo? Certamente os dois. São Paulo sempre pareceu ter como contrapartida de seu orgulho pela pujança econômica uma espécie de encabulamento pelo contraste de seus modos europeus com as maneiras arejadas do litoral.
Pelo contraste, também, de sua paisagem pétrea e urbana com a exuberância tropical e "brasileira" do Rio ou de Salvador. Um encabulamento, enfim, por não ser bela, num país em que o belo é atributo da natureza, não da obra.
Mas o país idílico e folgazão também deixou de existir como fim em si mesmo. A modernização industrial e suas decorrências socioculturais, antes problemas de paulistas, passaram cada vez mais a dizer respeito a todo o Brasil. Os valores da eficiência e do desempenho são, neste novo ciclo de expansão do capitalismo, uma preocupação igualmente em expansão.
Se as alfinetadas bairristas ainda persistem, é verdade também que São Paulo –não casualmente no poder– tornou-se mais assimilável por aqueles que, em nome de uma brasilidade tropical, antes a hostilizavam.
Ninguém melhor para expressar esse sentimento do que o carioquíssimo Tom Jobim. Em sua última entrevista, publicada pela revista "Qualis", o compositor repete uma de suas notas preferidas: reprovar aqueles que, no Brasil, diante do êxito alheio enveredam pela crítica rancorosa e negativista.
Diz Tom, comentando este lado obscurantista do país: "Sempre botando fogo no mato, sempre falando mal de quem trabalha, sempre falando mal de São Paulo. Tudo que dá certo é perseguido, é apontado como indesejável".
Esperemos que cada vez menos.

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