São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Quem tem medo do 'lobo mau' Romário?

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

Todas as pessoas famosas odeiam o assédio da imprensa. O que varia é a forma de enfrentar os jornalistas.
Há aqueles que se trancam em casa, não atendem telefone e só saem disfarçados ou protegidos por seguranças. Há aqueles que fingem ser pessoas normais, esbanjando simpatia e despojamento. Há os que tentam enfrentar a imprensa com ameaças ou intimidações. E há os que, não suportando mais a invasão de privacidade, partem para a agressão.
À época em que era casado com Madonna, o ator Sean Penn agrediu inúmeros fotógrafos que espreitavam o casal. O ex-jogador Maradona chegou a atirar com espingarda de chumbinho em jornalistas.
Romário não é desta laia. Sua tática preferida é a intimidação. Para não ser incomodado quando não deseja, o jogador não hesita em xingar ou ameaçar de agressão os jornalistas que o perseguem.
Durante a Copa dos EUA, a tática de Romário teve sucesso quase absoluto.
Presenciei Romário ameaçar, aos gritos, agredir jornalistas da "Folha da Tarde", "O Dia" e TV Globo. Vi repórteres pedirem autógrafos para Romário. Ouvi dizer que colegas escreveram cartas ao jogador pedindo desculpas pelo teor de reportagens que ele não gostou.
Li, num jornal californiano, o espantoso depoimento de um repórter brasileiro que, em resumo, dizia: é um procedimento normal entre os seus colegas emprestar as chaves de seus quartos de hotel para jogadores em troca de confiança, amizade e informações exclusivas.
Contratado pela Brahma, Romário era obrigado a vestir a camisa da empresa e participar de encontros informais que a cervejaria promovia para os jornalistas.
Encostado num canto, de costas para os fotógrafos, Romário passava duas horas conversando com seus amigos, enquanto nós, jornalistas, ficávamos olhando para as costas do craque, loucos de vontade de conversar com ele, mas receosos da reação que teria.
Nessas situações, um assessor da Brahma advertia os jornalistas que Romário não estava disposto a dar entrevistas –e nós, cordeirinhos, respeitávamos.
Um fotógrafo de "Caras" ousou certa vez desobedecer Romário. Numa manhã de folga, o jogador havia combinado com a Rede Globo jogar futevôlei numa praia próxima a Los Gatos.
Seguido pelo fotógrafo, Romário parou o seu carro, desceu e gritou: "Se continuar me seguindo, eu quebro a sua cara!". Ágil no gatilho, o fotógrafo respondeu: "Quebra que eu fotografo e a matéria vai ser ainda melhor." Derrotado, Romário voltou para a concentração.
Acho que o retorno de Romário ao Brasil recoloca em pauta este tema, deixado em segundo plano pela bem-sucedida campanha da seleção na Copa. Se a imprensa tratar o chamado melhor jogador do mundo da mesma forma que o tratou nos EUA, os amantes do futebol terão muito a perder –sobretudo, em termos de informação.

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