São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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De gregos a ingleses, todos meteram a colher nos pratos do Sri Lanka

HAMILTON MELLÃO JR.
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os doutos gastronômicos dividem-se sobre se alguma cozinha pode ser autóctone. Isto é, nascer e crescer sozinha, sem influências externas. Ou se existem cozinhas originais, livres de ascendências e portanto puras na sua origem.
Jean François Revel, no seu clássico "3.000 Ans à Table", obra-prima do pensamento culinário contemporâneo infelizmente ainda não traduzida para o português, nega peremptoriamente que possa existir uma cozinha imaculada ou como ele diz: "O homem é um mercador desde tempo imemoriais, a culinária pura não existe porque nada é criado a partir do nada".
Ficando com esta corrente, a cozinha do Sri Lanka talvez seja um dos seus exemplos mais representativos. A ilha já era conhecida pelos gregos e romanos. Teve sua primeira influência cultural quando imigrantes indianos se estabeleceram no século 3 d.C. e introduziram os currys, a farinha de trigo, os porcos, a codorna e inúmeras frutas. Junto com os ingredientes, vieram também as técnicas de sua pungente culinária, como o preparo dos pães, molhos e métodos de cocção.
Os mercantilistas portugueses tomam a ilha em 1505, mas a perdem em 1649 para os holandeses, que a deixam em 1796 para os ingleses, que concedem a sua independência somente em 1948, quando o antigo nome Ceilão é mudado para Sri Lanka (ilha bonita). Dessa mescla incrível de culturas nasce então uma cozinha única, riquíssima em ingredientes e técnicas.
O pão é o roti, com a sua massa finíssima, fabricado do mesmo modo como o faziam os primeiros imigrantes indianos e como é feito até hoje na Índia.
As saladas são feitas basicamente com frutas ainda verdes, mangas, mamões, bananas; cortadas em fatias finas e maceradas com sal e sumo de pimenta pilada.
Com a carne de vaca, é feito um pastelão idêntico ao de Portugal, assim como almôndegas chamadas frikkadels, exatamente as mesmas feitas na Holanda com o mesmo nome.
Por ser uma ilha e estar situada em mar piscoso, é natural que a base da alimentação seja o peixe e os frutos do mar, sempre acompanhados de leite de coco e diversos tipos de currys. Existe o curry vermelho que leva, além de canela, cravo da Índia, feno grego, coentro e pelo menos uma dúzia de pimentas malaguetas por prato, o que certamente transforma qualquer mortal desavisado em dragão.
O arroz é servido em todas as refeições, curiosamente acompanhado de pão. A comida é servida ao mesmo tempo e ingerida lentamente, segundo os preceitos budistas. Usa-se as mãos para levar o alimento em pequenos bocados à boca. Nas sobremesas, amanteigados de herança holandesa ou doces à base de ovos e açúcar de herança portuguesa.
Para beber, chá frio ou quente, de altíssima qualidade e que, junto com o arroz, é seu principal produto de exportação.

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