São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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50 anos de Auschwitz

Há 50 anos as tropas do Exército Vermelho comandadas pelo marechal Kaniev liberavam o campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau. Foi quando o mundo conheceu a banalidade do mal.
Nunca antes na história da humanidade um governo montara uma tão macabra, precisa e eficiente indústria da morte, com a finalidade de simplesmente erradicar um povo da face da terra.
E no auge da hedionda operação Solução Final, os fornos crematórios do complexo nazista chegaram a reduzir a cinzas 20 mil seres humanos por dia. Não importava se fossem mulheres grávidas, crianças ou velhos. O que importava é que eram em sua esmagadora maioria judeus, havendo também ciganos, homossexuais ou simplesmente opositores do regime nazista.
A morte tornou-se rotina. Matava-se como se produzem parafusos. Nenhum remorso. Cumpriam-se ordens. É neste instante que o homem torna-se absolutamente inumano ou talvez terrivelmente humano, no que ele tem de pior. Pouco importa.
O que importa é que o que aconteceu em Auschwitz não pode voltar a repetir-se. A humanidade não pode tolerar, como tolerou no passado, há 50 anos, que um governo qualquer planeje e execute o assassinato metódico, continuado e premeditado de um povo. Não pode tolerar, como tolerou, que crianças sirvam de cobaias para as supostas experiências científicas de um sádico louco que se pretendia médico.
Os ódios raciais, as guerras religiosas e até mesmo o revisionismo nazista e o neonazismo permanecem vivos, terrivelmente vivos, no mundo contemporâneo para lembrar a todos que Auschwitz realmente ocorreu. E não há muito. Há apenas 50 anos.
E a lembrança, a memória, é o único remédio de que os homens dispõem para evitar que Auschwitz se repita. Lembrar a todo instante, contar a todos o que aconteceu –e como– é uma dívida que a humanidade tem para com a memória dos milhões de seres humanos que foram assassinados pelos delírios homicidas de um tirano com a silenciosa cumplicidade de muitos.

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