São Paulo, sexta-feira, 27 de janeiro de 1995
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Os desorientados e os parados

CLÓVIS ROSSI

DAVOS (SUÍÇA) – O premiê sueco, o social-democrata Ingvar Carlsson, encontrou ontem uma perfeita definição para o estado anímico do planeta no momento.
Referindo-se ao final da Guerra Fria, Carlsson disse que "parecemos soldados desmobilizados depois de uma longa guerra, andando por aí desorientados e na incerteza de para onde ir em seguida".
De fato, a luminosa nova ordem internacional que nasceria dos escombros do comunismo nem sequer se insinua. Nem a recuperação econômica do mundo nem o "boom" dos chamados mercados emergentes (em especial América Latina e Ásia/Pacífico) bastaram para modificar o ânimo combalido ou perplexo do mundo.
De alguma forma, a avaliação de Carlsson pode ser adaptada ao Brasil. Depois de sua própria e longa guerra fria (contra a inflação), o país ou ao menos suas elites parecem embriagadas pela combinação de baixa inflação e alto consumo.
Como se tudo estivesse resolvido, quando nem sequer o problema da inflação pode ser dado como eliminado.
A Oxford Analytica, grupo de pesquisas econômicas e políticas de Londres, em "paper" especialmente preparado para o Fórum Econômico Mundial, que começou ontem em Davos, lembra que parte da política brasileira de estabilização esteve amparada na sobrevalorização do real.
O que, por sua vez, foi possível em grande medida porque choviam dólares sobre os mercados emergentes, como o Brasil. A crise mexicana modificou o cenário.
"Este ano será muito mais difícil para os países latino-americanos levantar no mercado internacional os fundos que precisam para financiar seus déficits em conta corrente" (o que inclui comércio e serviços), adverte a Oxford.
Consequência: "Pode ser que (tais países) não consigam manter uma taxa de câmbio sobrevalorizada (...) e, por extensão, a inflação pode crescer em alguns países".
É verdade que, ao contrário do que diz Carlsson, o governo brasileiro jura que sabe para onde vai. Mas falta começar a andar.

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