São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Participação do ABC no emprego e na indústria cresce nos últimos anos

EDUARDO BELO
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise que tirou o emprego de 58 mil metalúrgicos nos últimos cinco anos no ABC não foi suficiente para reduzir a importância da região para a indústria paulista. Levantamento da Fundação Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados) mostra que a participação da região no total de empregos industriais e no número de fábricas em funcionamento cresceu no período.
Em 1991, auge da recessão provocada pelos planos Collor 1 e 2, o ABC tinha 6,38% das fábricas paulistas. No primeiro semestre deste ano, mesmo tendo caído o número de indústrias em atividade na região, a participação subiu para 7,95%.
Já o pessoal empregado no setor fabril aumentou de 10,42% há quatro anos para os atuais 12,66%.
Os números servem para desmistificar um suposto processo de desindustrialização do ABC, recentemente tão comentado até por gente, em tese, bem informada como Gustavo Franco, diretor do Banco Central.
O desemprego cresce, sim, mas o fenômeno é generalizado e indica que, no berço da indústria automobilística nacional, esse crescimento é menor que na média do Estado.
"Não posso admitir empobrecimento do ABC quando vejo que o salário aumentou e a renda familiar é maior que em 1990", afirma Maria do Carmo Romeiro, coordenadora do Inpes, instituto de pesquisa do Imes (Instituto Municipal de Educação Superior), a faculdade que faz o mapeamento econômico e social do ABC desde 1978.
Ela nega que tenha ocorrido uma desindustrialização. O número de fábricas, que vinha diminuindo, voltou a crescer neste ano (veja quadro ao lado).
A redução da mão-de-obra da indústria é fruto de um processo mundial e irreversível de modernização da indústria, tese com a qual concordam personagens tão diferentes quanto o ministro da Fazenda, Pedro Malan, e o presidente da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho.
Com a mudança do perfil econômico da região, comércio e serviço começam a ganhar espaço -até para absorver parte da riqueza gerada pela indústria. O problema é que esses dois setores não conseguem absorver todo pessoal dispensado pelas fábricas.
"A qualidade do emprego mudou", afirma Fátima Araújo, coordenadora de pesquisa da Fundação Seade. Segundo ela, quando uma fábrica corta vagas, põe no mercado mão-de-obra mais qualificada, difícil de ser absorvida pelo comércio e pelo setor de serviços.
Pior: os que são contratados nessas áresas acabam recebendo salários menores; os que voltam a trabalhar na indústria, em geral vão para funções menos qualificadas ou fábricas não tão avançadas.
Ao contrário de Maria do Carmo, do Inpes, Fátima não acredita que o salário será melhor para quem ficar empregado.
"Esse processo precisa ser monitorado", defende. Ela considera necessário criar uma política industrial e definir estratégias para que o ônus da modernização industrial não pese demais sobre o ombro do trabalhador. Como na Itália, onde o assunto está na pauta do sindicalismo desde o início dos anos 80. Mesmo assim, o país tem taxas de desemprego em torno de 10% há dez anos.
O desaquecimento da economia acelerou o processo neste ano, com a demissão de cerca de 7.000 metalúrgicos do ABC. Mesmo assim, o total de mão-de-obra no setor é praticamente o mesmo de um ano atrás. Desde 1989, quando o nível de emprego atingiu o pico, o pessoal contratado pela indútria de São Bernardo do Campo diminuiu 20,9%. Em Santo André, a queda foi de 27,2%, contra 27,5% em São Caetano.
O problema é que o eventual reaquecimento econômico pode não significar, necessariamente, a retomada do emprego, diz Fátima Araújo. Na crise, o processo de ajuste da indústria se intensifica. Quando a economia melhora, a empresa reluta em contratar. Faz todos os esforços para continuar produzindo em escala, aumentando as horas extras, por exemplo.
"O ABC; mais uma vez, está na vanguarda, porque está passando primeiro por esse ajuste", diz Maria do Carmo.

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