São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Administração do PT vira refém da CUT

20 mil servidores podem parar nos próximos dias

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo do petista Cristovam Buarque no Distrito Federal vive, nos últimos dias, a experiência de ter como adversário o braço sindical do PT -a CUT (Central Única dos Trabalhadores). Experimenta também como é administrar as consequências desse embate para os contribuintes-eleitores.
Apesar de ter negociado com professores, que estavam em greve, e sufocado as tentativas de paralisação dos rodoviários e dos médicos, o PT do DF ainda sofre a ameaça de uma onda de paralisações, prevista para esta semana, que pode mobilizar 20 mil trabalhadores ligados ao setor público.
A megagreve envolve servidores públicos do DF, policiais civis e funcionários do SLU (Serviço de Limpeza Urbana). Para completar a lista, somam-se os 3.000 funcionários do BRB (Banco de Brasília), parados desde quarta-feira.
Na avaliação da CUT, a avalanche de greves é o resultado da ``campanha do abono", feita por Buarque no início do ano.
Em meados de abril, o governo do DF concedeu abonos de três meses para diversas categorias de servidores que reclamavam do baixo valor de seus salários.
Os sindicatos do funcionalismo, segundo a CUT, entenderam ter sido acertado informalmente a incorporação do abono ao salário dos servidores. O GDF nega.
"O governo usou o abono como forma de acalmar os ânimos dos trabalhadores e tentar controlar a situação. Ficou tudo bem por três meses, quando o abono acabou. Foi uma estratégia perigosa e agora a panela de pressão está estourando", disse José Zunga Lima, presidente da CUT-DF.
O movimento grevista deve estourar no próximo dia 4, quando 15 mil servidores administrativos do GDF, contando adesão dos lixeiros, vão para a frente do Palácio do Buriti (sede do governo) para promover uma manifestação.
É possível que os 2.500 policiais civis aproveitem a ocasião para protestar contra a ameaça de desvinculação de salários entre delegados e agentes de polícia.
Os servidores pedem a incorporação do abono aos vencimentos e querem o benefício para todos os níveis do quadro funcional.
A provação do governo Buarque, no entender da CUT, foi a greve dos professores. Cerca de 23 mil professores da rede pública do DF suspenderam as aulas por 12 dias. Rejeitaram quatro propostas do GDF e acabaram por aceitar, na última terça-feira, o reajuste de 61% em seus salários.
"A forma de negociação nos deixou tranquilos em relação ao governo", disse Anete Maia, do Sindicato dos Professores.
O GDF reconheceu que a ``política do abono" foi uma ação emergencial que não deu certo. Entretanto, o secretário-adjunto de governo, Swedenberger Barbosa, afirma que ``nunca houve promessa de incorporação do abono".
``No primeiro semestre, a concessão de abonos foi a única saída do governo para evitar as greves, o que seriam desastrosas."

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