São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995 |
Texto Anterior |
Próximo Texto |
Índice
Atraso nas reformas pode adiar investimento externo
ANTONIO CARLOS SEIDL
O sinal de alerta foi dado por importantes dirigentes de empresas nacionais e multinacionais ouvidos pela Folha. Os empresários aplaudem o sucesso, até aqui, do Plano Real no combate a inflação, mas temem uma inversão de valores. O meio (a política antiinflacionária) não deve ser o fim (crescimento econômico sustentado e distribuição da renda), advertem. Hermann Wever, presidente da Siemens do Brasil, empresa de capital alemão, critica a falta do ``senso de urgência" nas reformas estruturais (tributária, do Estado e da Previdência). Ele diz que isso pode ``com certeza" reduzir a entrada de investimentos produtivos (dinheiro que vai para a produção, e não para o mercado financeiro) no país. ``Não há tempo a perder", afirma. Wever acreditava até há pouco tempo que o país obteria, até o ano 2000, investimentos externos de US$ 5 bilhões por ano. Desse total, US$ 1 bilhão, diz, viriam de empresas alemães. ``Este ano o país vai receber cerca de US$ 2 bilhões em investimentos diretos, mas acho que dificilmente sairemos desse patamar sem as mudanças estruturais". ``O atraso nas reformas obriga o governo a usar uma política recessiva, com crédito escasso e taxas reais de juros altas", diz Wever. Maílson da Nóbrega, vice-presidente do Banco BMC e ex-ministro da Fazenda (governo Sarney), diz que o Ministério da Fazenda e o Banco Central não vão recuar na política de juros altos, apesar das pressões da indústria e de segmentos do próprio governo. ``A tendência dos juros é declinante, mas a um ritmo muito lento, porque o governo não tem indicações seguras de que venceu todas as paradas". Henrique Campos Meirelles, presidente do Banco de Boston e da Câmara Americana de Comércio de São Paulo, concorda com a avaliação de Wever. ``Uma reforma que é feita hoje é diferente de uma reforma que é feita daqui a quatro anos", afirma. ``Tem de acelerar mesmo". Meirelles responsabiliza os políticos pela lentidão das reformas. ``Eles não têm a noção de tempo, que é uma característica dos empresários na era da globalização de produtos e mercados". Meirelles também tem palavras duras para a política recessiva do governo, que, a ser ver, é um obstáculo aos investimentos diretos no país, por dois motivos. Primeiro, porque ninguém faz investimentos somente com capital próprio. Segundo, porque os juros altos limitam a demanda (a procura de bens e serviços pelos consumidores), tornando restrito o mercado interno. Boris Tabacof, diretor titular do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), diz que o encolhimento do mercado interno é um efeito perverso da desaceleração da indústria e do consumo. Enfatizando que não é ``preciso reinventar a roda", Tabacof diz que o que faz o empresário, interno ou externo, investir é a existência de comprador para seu produto. Texto Anterior: A opção pelo déficit externo Próximo Texto: Montadoras mantêm planos de expansão Índice |
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress. |