São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BC quer acabar com ciranda do dia-a-dia

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O BC (Banco Central) se prepara para abandonar a obrigação de atuar no overnight (negócios de um dia com títulos públicos).
O objetivo é perseguir taxas de juros médias por um determinado período e deixar o juro do over variar mais. A afirmação é do presidente do BC, Gustavo Loyola.
Um dos passos dados no sentido do alongamento dos prazos, e que não será o único, foi a mudança nos fundos de investimento, agora chamados de FIFs. A partir de amanhã, somente os novos fundos poderão receber depósitos.
O dinheiro que fica no dia-a-dia (será gasto ao longo do mês) vai ganhar um juro menor no FIF de curto prazo. Quanto mais tempo o dinheiro puder ficar aplicado, maior será o rendimento recebido.
Os novos fundos, como a caderneta, têm data de ``aniversário" - o saque, sem perda de rendimento, será limitado a 30, 60 ou 90 dias (dependendo do FIF).
Loyola diz acreditar que a nova estrutura é a ``melhor" para induzir os investidores ao alongamento dos prazos.
``Foi um erro possibilitar a liquidez (dinheiro disponível) diária nos fundos de commodities", afirma, para acrescentar: ``De commodities, eles só tem o nome."
Detalhe: a afirmação é uma espécie de mea-culpa, já que Loyola era diretor do BC na época em que esse fundo foi criado.
Para ele, a nova estrutura deve acabar enxugando um pouco a indústria de fundos, reduzindo o volume de recursos aplicados. ``Ela deve ficar um pouco menor do que é hoje", diz, para depois emendar que os fundos tinham crescido ``demais" anteriormente por causa, justamente, dos commodities.
Apesar da possível redução, o presidente do BC não traça um cenário catastrófico e lembra que ``quando o Ibrahim (Ibrahim Eris, ex-presidente do BC) criou os fundões, o mercado reagiu, criticou, falou da violência e acabou não acontecendo nada."
Alongamento
Loyola afirma que o BC já fez a sua parte (induzindo o processo). Mas ``é o investidor que vai produzir o alongamento. Vamos aguardar sua reação", pondera, cauteloso.
O processo de alongamento, avalia, deve ser gradual. Já que, na medida em que o cenário da economia ficar mais estável, há uma tendência natural de os investidores, buscando uma melhor rentabilidade, aplicarem seus recursos por prazos mais longos.
Loyola diz que o ideal é ter títulos longos com ``variância, que possibilitem ganhos e perdas, para atrair o mercado".
Esses títulos, vendidos em leilão, poderiam ser negociados diariamente entre as instituições (criando um mercado secundário de títulos). O fim da cobrança do PIS (Programa de Integração Social), acredita, deve facilitar os negócios entre bancos.
Empréstimos
O alongamento no perfil das aplicações deve, segundo Loyola, beneficiar os que precisam de empréstimo, já que os prazos também vão poder ser ampliados.
Loyola diz acreditar que é apenas conjuntural o fato de os bancos, assustados com o nível de inadimplência (atraso nos pagamentos), terem ficado extremamente seletivos na concessão de empréstimos. ``Isso não vai durar para sempre. Mais cedo ou mais tarde, o crédito vai voltar."

Texto Anterior: Reforma do Estado: hora decisiva
Próximo Texto: Prazo definirá as alternativas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.