São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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Estados Unidos voltam ao topo tecnológico

ÁLVARO ANTÔNIO ZINI JR.

A revista ``The Economist" da semana passada trouxe uma interessante reportagem sobre a reconquista da liderança em tecnologia industrial pela indústria americana.
Quem viveu nos anos 80 lembra-se dos argumentos insistentes de que os Estados Unidos estavam a caminho da obsolescência e da perda da liderança tecnológica para o Japão e Alemanha.
Mas, com investimentos enormes em maquinaria nova, máquinas ``inteligentes" e retreinamento da mão-de-obra, a produtividade do operário americano cresceu mais do que a dos competidores.
Capitalismo é isso: quem tem competência (e capital) se estabelece. E isso se faz com juros ajuizados, para não estimular o capital parasita que fica aplicado em papéis bancários.
Nem tudo foi fácil nessa recuperação. Um dos fatos que causam muita discussão nos Estados Unidos é que o rendimento familiar médio do americano não aumenta desde o início dos anos 70.
Outro problema: apesar dos enormes investimentos na reestruturação, reorganização e reengenharia da indústria, o número de empregos gerados por unidade de investimento tem caído.
Essa é uma faceta preocupante das tecnologias modernas, mas também não é nenhuma novidade na história do capitalismo. A tecnologia progride no capitalismo por saltos: em certos momentos economiza trabalhadores, em outros economiza capital.
O investimento americano nas novas tecnologias aplicadas ao processamento de informações, de quase US$ 1 trilhão desde 1980, prepara o país para permanecer competitivo por muitos e muitos anos.
Vejamos um exemplo. Por volta de 1987, a produção americana de semicondutores havia caído para 40% do mercado mundial, e o Japão respondia por outros 50%.
Este ano, a Intel sozinha está produzindo cerca de 35 milhões dos seus chips Pentium super-rápidos. E conquistou 75% do mercado mundial.
Que lições podemos aprender?
Primeiro: não se industrializa um país com juros de agiota como os que o Banco Central vem praticando neste país infeliz.
Segundo: liderança tecnológica requer concentração de esforços e criação de uma atmosfera favorável à experimentação e inovação. É fantástico o que operários motivados podem sugerir para melhorar a produtividade (que não lhes tire o emprego).
Terceiro: a força que dá dinamismo e faz os investimentos modernizantes saírem do papel é a competição. O país que quer crescer nesta virada de século conseguirá as maiores taxas de crescimento quanto maior for a competição doméstica por seus mercados.
Por fim, o último dos medos que devemos ter é o da baixa geração de empregos. Aqui, neste país tropical, onde a falta de habitações urbanas é preocupante, investimentos subsidiados em habitação, saneamento público, educação etc. têm uma enorme capacidade de absorver muitos dos que hoje estão desocupados.
Só não se desculpa a falta de vontade de começar a fazer o que deve ser feito.

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