São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bancos atendem só 10% da população

DENISE CHRISPIM MARIN
DE BUENOS AIRES

Cerca de 90% da população da Argentina somente entra nos bancos quando tem que pagar suas contas -e com dinheiro vivo.
Segundo estimativa da Abra (Associação de Bancos da República Argentina), somente 3 milhões de pessoas possuem contas correntes, cadernetas de poupança ou depósitos a prazo fixo.
Comparado com outros países, o percentual de 10,23% de argentinos que usufruem da rede bancária torna-se bastante tímido.
O Brasil tem 23,40% de sua população assistida pelos bancos. O México acumula 34,47%. E o Chile detém o maior percentual da América Latina, com 41,86%.
Países da Europa e Estados Unidos estão bem próximos dos 100%. Ou seja, os cidadãos utilizam cheques ou cartões de débito e crédito.
Os argentinos, em contrapartida, costumam carregar notas de pesos ou dólares em seus bolsos.
Cheques são raramente aceitos pelo comércio. Problemas com devolução, impostos e o fato de serem nominais levaram à perda de confiança no papel.
No país, há cerca de 1.500 agências de 164 bancos e uma população de 34 milhões de habitantes, aproximadamente.
Em contrapartida, existem apenas 1,85 milhão de contas correntes e 5,89 milhões de cadernetas de poupança. Os depósitos a prazo fixo (de 45 dias, em geral) são 1,30 milhão.
Somando esses três tipos de depósitos em pesos, o total estimado para agosto é de US$ 19,15 bilhões. Em dólares, o total chega a US$ 21,58 bilhões.
Segundo Jorge Codari, 60, assessor técnico da Abra, o baixo índice de clientes de bancos na Argentina se deve à cultura hiperinflacionária ainda existente e aos altos custos dos serviços bancários.
A desconfiança no prosseguimento do Plano de Convertibilidade (adotado em 1991 para combater a hiperinflação) e na permanência do ministro da Economia, Domingo Cavallo, distanciam ainda mais a população dos bancos.
Em outras palavras, isso quer dizer que os argentinos ainda estão com um pé atrás em relação à reconquista do valor da moeda nacional.
``Em qualquer sinal de instabilidade, os depósitos em pesos são convertidos em dólares. Se a situação piora, o dinheiro é remetido ao exterior", afirma Codari.
Os efeitos da crise mexicana fizeram com que os depósitos no Uruguai aumentassem em US$ 600 milhões em apenas duas semanas durante março deste ano. Esse volume antes estava nos bancos argentinos.
O custo para um cliente movimentar uma conta bancária também é desproporcional na Argentina. Em média, cada correntista desembolsa US$ 400 por ano.
Em bancos de grande porte, o cliente consegue fazer aplicações por telefone e dispõe de meios eletrônicos para evitar filas.
Mas pode utilizar apenas mil caixas eletrônicos -um meio essencial em um país onde não se compra com cheque e se paga ágio com cartão de crédito.
No Canadá -país que conta com 28 milhões de habitantes- existem nada menos que 15 mil desses aparelhos disponíveis nas ruas.

Cartão de crédito
O comércio argentino está adotando uma prática comum a tempos de hiperinflação -a cobrança de ágio para clientes que insistem em pagar com cartão de crédito.
O ágio, na verdade, é disfarçado como um "amable" desconto de 10% no preço do produto, em média, para o pagamento em efetivo. A prática é comum nas cidades maiores, como Buenos Aires.
As administradoras de cartões de crédito recebem reclamações. Mas insistem que o cliente é quem deve pressionar o comerciante, desistindo da compra nesses termos.
Segundo Oscar Girola, 51, vice-presidente de marketing da American Express Argentina, a empresa melhorou as condições de pagamento aos comerciantes, o que torna injustificável a atitude.
Nos últimos 18 meses, houve redução de 21 para 12 dias no prazo de pagamento ao comércio pelas compras de seus clientes.
Para Rafael Belástegui, 67, presidente do Sistema Argencard/Mastercard, a cobrança do ágio traz uma vantagem adicional para os comerciantes -a sonegação de impostos.
Nas compras com cartão de crédito, uma parcela do valor do produto é imediatamente tributada para evitar a evasão.
Pagando com dinheiro, nem sempre o cliente recebe nota fiscal, que permitiria a cobrança do IVA (Imposto sobre Valor Agregado).
Na Argentina, existem cerca de 2,3 milhões de usuários de um ou mais cartões de crédito. No total, há 7 milhões de cartões circulando pelo território argentino.
Cerca de 73% da população não possui nenhum tipo de cartão. A Argencard/Mastercard conta com quatro tipos diferentes de produtos e domina o mercado, com uma fatia de 49%.

Texto Anterior: Bancos seguram taxas de olho na inflação
Próximo Texto: Saiba preservar o dinheiro ``antigo" dos commodities
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.