São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
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A lição

SÍLVIO LANCELLOTTI

Depois da queda do treinador Ottavio Bianchi e da eliminação da sua Inter na Copa da Uefa, entra em rápido desgaste o moral de Roberto Carlos na Itália.
A Inter já periclitava, chocantemente, no campeonato da Bota, quando o lateral concedeu, duas semanas atrás, uma entrevista pedante, infeliz e imatura à Folha.
Ingênuo ou tolo, Roberto Carlos não pensou que no Brasil existem inúmeros correspondentes de periódicos da Itália. Não imaginou que eles fossem remeter à Bota os excertos de seu pronunciamento.
Babau! Vários astros da Inter, em particular o capitão Beppe Bergomi e o meio-campista Nick Berti, se ofenderam com algumas observações do lateral a respeito da fragilidade do time. A mando dos seus novos patrões, Roberto Carlos desmentiu a entrevista. Permaneceu no elenco a dúvida, porém.
A Inter se desestabilizou de vez e foi ridicularmente despachada da Uefa pelo mínimo Lugano, da Suíça. Na chamada boca pequenina, nos vestiários e nos bastidores da Inter, já existe quem culpe Roberto Carlos pela crise.
O episódio me obriga a repetir um velho raciocínio sobre a diminuição do número de brasileiros na Itália. Depois de um batalhão de experiências frustrantes com jogadores de indubitável talento, mas comportamento pouco profissional, os cartolas da Bota não querem mais saber de brasileiros.
Cito sem constrangimento as passagens em nada louváveis de atletas como Sócrates, Andrade, Renato Gaúcho, Careca/Bianquezi, Gaúcho, Muller. Os brasileiros exigem fortunas e benesses nos contratos, mas acabam traindo as esperanças dos empregadores -a eterna desculpa da não-adaptação.
``Estamos fartos de jogadores impositivos na hora do acerto dos seus ganhos e manhosos e fricoteiros no momento dos treinos e das partidas", observa Luciano Moggi, consultor da Juventus.
Completa um craque da Inter, que prefere, por enquanto, não se identificar: ``Carlos foi irresponsável ao dizer o que afirmou. Depois, foi fraco ao afirmar que não havia dito. Em ambos os casos, atitudes pouco elogiáveis".
Tal clima se refletiu na péssima atuação do lateral diante do Lugano, ``deslocado da equipe, incapaz de re-estimulá-la", segundo o ``La Gazzetta dello Sport", que arrematou: ``Foram-se os tempos dos milagres". Pena. Atrás do grande astro precisa haver, também, um grande homem. Que Roberto Carlos aprenda a lição, em todos os seus planos e departamentos.

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