São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Um exemplo do Harlem

GILBERTO DIMENSTEIN
DE NOVA YORK

Foi uma boas cenas que assisti em minha vida -ótimo exemplo a ser copiado no Brasil. Fui convidado, domingo passado, a assistir a uma reunião numa igreja Batista do Harlem, em Nova York. O objetivo do encontro é reunir entidades e tentar melhorar a vida do bairro, onde prosperam gangues, tráficos e corrupção lotada.
A igreja estava lotada e Yolanda Torres, uma ex-freira da República Dominicana, defensora da Teologia da Libertação, pede que a nova chefe de polícia suba ao púlpito -atualmente, ela cuida de um programa preventivo de drogas. Diante do silêncio da platéia, Yolanda pede à policial que se comprometa a trabalhar junto da comunidade, fazendo um juramento diante de ``Deus" -humilde, ela faz. Eles, na verdade, estavam solidificando uma vitória, iniciada no ano passado. A polícia estava vinculada ao tráfico de drogas, o que tornava o bairro ainda mais terra de ninguém. Ninguém tinha coragem de denunciar.
Os religiosos pediram, então, aos fiéis que levassem à missa, dentro do envelope em que se fazem as doações, um papel; deveriam, por motivos óbvios, manter o anonimato. No papel, deveriam estar escritos os pontos-de-venda de drogas, os nomes e residências dos traficantes. Num único domingo, os padres receberam 147 indicações de pontos de droga. Foram levados, então, a uma esfera mais elevada da polícia, que, depois de receber as informações, comprometeu-se a ajudar -pressionaria a delegacia do bairro.
Os líderes comunitários recusaram e bateram firme: queriam gente nova na investigação. Do contrário, ameaçaram, iriam ao prefeito. Se o prefeito não resolvesse, bateriam nas portas do governo e, finalmente, na Casa Branca. Até lá, iriam fazer barulho pela imprensa.
Foi feita uma limpeza na delegacia do bairro, demitiram-se policiais, abriram-se processos e, mais importante, prenderam-se traficantes. Nem o tráfico nem a violência obviamente acabaram. Mas as entidades religiosas e de direitos civis não se sentem tão acuadas.
A ofensiva no Harlem vai além. Eles querem introduzir nas igrejas e escolas experiências que já ocorrem em vários lugares dos Estados Unidos: preparar pais e professores para administrar os conflitos e impulsos de violência nos jovens e, assim, dar-lhes perspectiva.

Texto Anterior: A nova guerra civil
Próximo Texto: Moralismo persegue Calvin Klein e seus adolescentes
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.