São Paulo, domingo, 1 de outubro de 1995 |
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Um exemplo do Harlem
GILBERTO DIMENSTEIN
A igreja estava lotada e Yolanda Torres, uma ex-freira da República Dominicana, defensora da Teologia da Libertação, pede que a nova chefe de polícia suba ao púlpito -atualmente, ela cuida de um programa preventivo de drogas. Diante do silêncio da platéia, Yolanda pede à policial que se comprometa a trabalhar junto da comunidade, fazendo um juramento diante de ``Deus" -humilde, ela faz. Eles, na verdade, estavam solidificando uma vitória, iniciada no ano passado. A polícia estava vinculada ao tráfico de drogas, o que tornava o bairro ainda mais terra de ninguém. Ninguém tinha coragem de denunciar. Os religiosos pediram, então, aos fiéis que levassem à missa, dentro do envelope em que se fazem as doações, um papel; deveriam, por motivos óbvios, manter o anonimato. No papel, deveriam estar escritos os pontos-de-venda de drogas, os nomes e residências dos traficantes. Num único domingo, os padres receberam 147 indicações de pontos de droga. Foram levados, então, a uma esfera mais elevada da polícia, que, depois de receber as informações, comprometeu-se a ajudar -pressionaria a delegacia do bairro. Os líderes comunitários recusaram e bateram firme: queriam gente nova na investigação. Do contrário, ameaçaram, iriam ao prefeito. Se o prefeito não resolvesse, bateriam nas portas do governo e, finalmente, na Casa Branca. Até lá, iriam fazer barulho pela imprensa. Foi feita uma limpeza na delegacia do bairro, demitiram-se policiais, abriram-se processos e, mais importante, prenderam-se traficantes. Nem o tráfico nem a violência obviamente acabaram. Mas as entidades religiosas e de direitos civis não se sentem tão acuadas. A ofensiva no Harlem vai além. Eles querem introduzir nas igrejas e escolas experiências que já ocorrem em vários lugares dos Estados Unidos: preparar pais e professores para administrar os conflitos e impulsos de violência nos jovens e, assim, dar-lhes perspectiva. Texto Anterior: A nova guerra civil Próximo Texto: Moralismo persegue Calvin Klein e seus adolescentes Índice |
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